A CAIXA Cultural Salvador apresenta, de 16 de agosto a 30 de setembro de 2018, a exposição O Tempo Dos Sonhos: Arte Aborígene Contemporânea da Austrália, a mais vigorosa, significativa e diversificada coleção de obras de artistas aborígenes a visitar a América do Sul. A exposição, que já passou por diversas cidades do país, reúne mais de 40 obras, selecionadas por importância histórica e consagradas internacionalmente.

 

As peças contam com linguagem moderna e contemporânea e técnicas diversas, tais como pinturas, esculturas, litografia e bark paintings, pintura sobre entrecasca de eucalipto, típica do norte tropical da Austrália, que constitui uma das expressões artísticas mais antigas do mundo, com mais de 40 mil anos. Compõem o acervo obras da Coo-ee Art Gallery, a galeria mais antiga e respeitada em arte aborígene da Oceania. Os trabalhos artísticos representam um período de 45 anos, desde o despertar da comercialização da arte aborígene contemporânea na década de 1970 até o presente.

 

“Essa coleção é um presente à população brasileira. Em um acervo de mais de três mil obras, selecionamos aquelas mais significativas. Muitas já foram publicadas em inúmeros catálogos de arte, citadas em teses de doutorado e exibidas em várias instituições de prestígio na Austrália, Europa e América do Norte”, conta o brasileiro Clay D´Paula, que assina a curadoria ao lado dos australianos Adrian Newstead e Djon Mundine.

 

Além de circular pela América Latina e pelo Brasil pela primeira vez, a exposição também traz o primeiro catálogo publicado em português sobre a arte aborígene, segmento que movimenta cerca de 200 milhões de dólares por ano na Austrália. Estima-se que hoje mais de sete mil artistas indígenas vivam de sua prática artística no país.

 

O Tempo dos Sonhos – Os artistas aborígenes pintam os seus sonhos (mas não a ideia Junguiana de sonhar e sua associação com o inconsciente). Para eles, pintar o seu “sonhar” (dreaming, em inglês) implica recontar histórias que são atemporais a fim de mantê-las vivas e repassá-las a futuras gerações. Essas pinturas contêm informações vitais, como, por exemplo, onde encontrar “água viva” permanente. Manter o “sonhar” vivo é a motivação fundamental para a prática dos artistas indígenas da Austrália.

 

Bark paintings – Destaques dessa exposição, inicialmente, as bark paintings tinham uma pobreza estética muito grande porque não foram criadas para durar, mas sim para cerimônias ou decoração. Hoje, elas trazem uma execução primorosa, sendo consideradas como arte, não artefato, e estão em museus renomados, além de integrarem coleções particulares em todo o mundo.

 

Artistas participantes – A mostra reúne os artistas aborígenes de maior projeção internacional, com uma paleta refinada e luminosa, como a do celebrado artista Rover Thomas (1926-1998), com suas paisagens de cor ocre que mudaram, com sua visão, a percepção paisagística australiana. A estética desenvolvida pelos artistas lembra o minimalismo e o expressionismo. No entanto, as obras criadas por eles trazem uma linguagem visual única, lembrando que os artistas indígenas da Austrália, na sua grande maioria, não tiveram contato algum com a arte europeia.

 

A grande estrela da exposição é Emily Kame Kngwarray (1910-1996). Mulher, negra, que começou a pintar aos 79 anos. Considerada pela crítica uma das maiores pintoras expressionistas do século XX e, mesmo sem nunca ter tido acesso a qualquer expressão da arte ocidental, já foi comparada a Pollock e Monet. De sua autoria, a exposição traz a pintura “Sem título, 1992”. Emily tornou-se a artista mais querida da Austrália representando o país na Bienal de Veneza e outros eventos de arte internacional.