Há oito anos atrás pela primeira vez, “Namíbia, Não!” era encenado na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. De lá para cá, veio o Prêmio  Jabuti de Literatura – 2013, para a dramaturgia assinada por Aldri Anunciação, no mais renomado prêmio da literatura brasileira, uma versão traduzida para o inglês e encenada em Londres,  uma publicação e tradução para a língua alemã pela editora Fischer Verlag, as quatro edições do Festival  Nova Dramaturgia Melanina Acentuada, que extrai uma citação da obra e cria um evento que dá visibilidade a dramaturgos negros de todo país, e vem ainda uma versão cinematográfica, intitulada Medida Provisória, já em fase de pré-produção pela Lata Filmes, Lerybe Produções e Melanina Acentuada Produções. E para celebrar quase uma década dessa obra que não para de render frutos, o Palco Principal do Teatro Castro Alves receberá única apresentação do espetáculo, que tem direção de Lázaro Ramos, no dia 11 de maio, às 20h, numa apresentação comemorativa. 

Em oito anos, a peça teatral escrita por Aldri Anunciação tem tido uma receptividade imensa no público jovem e a encenação marcou a estreia do ator Lázaro Ramos na direção de espetáculo adulto. “Namíbia, Não!” já fez longas temporadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Fortaleza, Brasília, Belo Horizonte, Vitória, Porto Alegre, Salvador e Recife, entre outras cidades brasileiras, sempre  tendo sucesso de público. Tendo alcançado mais de 500 mil espectadores, o espetáculo já teve duas montagens internacionais, a primeira em 2013, no Theatro Nacional São João na cidade de Porto em Portugal, e em Londres, no Soho Theatre, com direção do baiano Almiro Andrade, em 2016. A dramaturgia foi traduzida para o alemão, em 2014, pela conceituada editora germânica Fischer Verlag Editora. 

Tantos desdobramentos e interesse despertado em torno da obra tem a ver com a sua atualidade: naquele que ainda parecia distante ano de 2016, o governo brasileiro decreta que todos os cidadãos de melanina acentuada sejam deportados para um país da África. Com  humor e inteligência, a partir do confinamento de dois primos em um apartamento por causa desta absurda Medida Provisória, o espetáculo provoca uma discussão sobre a situação do negro no Brasil, que em muito se assemelha à vivência de negros e negras em outras partes do mundo e os enfrentamentos no contexto de diáspora, a crise humanitária vivenciada em diferentes países africanos que empurra seus filhos para fora do continente e as experiencias migratórias, que se confrontam com xenofobia e a reascensão de práticas fascistas mundo a fora.  

Com  humor e inteligência, o espetáculo provoca uma discussão sobre as relações humanas no Brasil, a partir do confinamento de dois primos (representados pelos atores Fernando Santana e Aldri Anunciação) em um apartamento, que tentam se proteger da ambiciosa Medida Provisória. Além dos dois atores em cena, o espetáculo ainda é recheado de participações gravadas em off que representam as personagens que estão fora do apartamento. Vozes de atores como Wagner Moura, Pedro Paulo Rangel,  Suely Franco, Léa Garcia dentre outros surgem ao longo do espetáculo , além de participações hilárias em vídeo dos atores Luis Miranda e  da jornalista Maria Beltrão da Globonews. Se valendo da estética do teatro de absurdo e da comédia irônica, o espetáculo teatral “Namíbia, Não!” coloca o espectador em uma situação de conflito, onde a decisão de ir ou ficar, não são opções fáceis de escolher.