Em Que os outros sejam o Normal não há propriamente uma trama. Há um cenário com poucos objetos expostos e um grande espaço para a imaginação do espectador, avisa Thürler que, além da direção e da dramaturgia, assina também o cenário.
Com uma dramaturgia crítica do mundo contemporâneo, suas mazelas, sua desordem aparente, os limites entre sanidade e loucura, as dualidades de pontos de vista, sobre religião, política, gênero e sexualidade, Duda Woyda e Mariana Moreno se aventuram na construção de uma dramaturgia hibrida que desloca o público do lugar de conforto e o convida para a construção conjunta do espetáculo.
Em mais um trabalho que valoriza o ator, Que os outros sejam o Normal é um pas de deux entre Duda Woyda e Mariana Moreno de uma precisão matemática, como se o público estivesse diante de um balé exaustivamente coreografado, um jogo entre o fictício e real, que coloca em crise as certezas, insufla a dúvida, tenta “desorganizar e desaprender o que se acha burocraticamente arrumado, historicamente ensinado”, descreve Thürler.
Que os outros sejam o Normal convida o espectador a enxergar o avesso das coisas, o “outro lado de todas as coisas”, o “outro do outro” através dos seus corpos-máquina-de-guerra, subjetividade plural e polifônica, potência de múltiplas éticas e múltiplas estéticas da existência.
Com a peça, a Companhia interrompe o ciclo de quatro monólogos que ainda continuam circulando pelo país. O último deles, “Uma mulher impossível”, foi indicado a quatro categorias no Prêmio Braskem de Teatro 2017 e consagrou Mariana Moreno como a melhor atriz daquele ano.