O documentário “Fico te devendo uma carta sobre o Brasil” conquistou a menção especial do júri no 32ª edição do IDFA – Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, o maior festival do mundo dedicado ao gênero. A diretora foi acompanha da atriz e também produtora do longa Leandra Leal e de sua sócia Rita Toledo. O filme é produzido pela Daza Filmes, com coprodução Canal Brasil, VideoFilmes e Muiraquitã Filmes .
Em sua primeira direção de longas-metragens, a cineasta Carol Benjamin revela a história das três gerações de sua família, atravessada pela Ditadura Militar que se instalou no Brasil entre 1964 e 1985. Seu pai, César Benjamin, foi preso ilegalmente aos 17 anos, em 1971, e permaneceu como preso político por cinco anos, ficando três anos e meio desse período em uma cela solitária. A prisão e tortura do filho mais novo transformou a dona de casa Iramaya Benjamin, avó da diretora, em uma militante incansável pela anistia. A luta e a dor de ambos sempre foram, no entanto, pouco ou nada faladas em família. Ao mergulhar em uma história pessoal e a entrelaçar com a história do país – entre passado e presente – o filme investiga a persistência desse silêncio como ferramenta de apagamento da memória.
Para resgatar a história do pai, Carol inicia o filme em Estocolmo (Suécia), onde Benjamin ficou exiliado por dois anos após sair da prisão. É lá também que a diretora reencontra Marianne Eyre, membro da Anistia Internacional desde 1966, com quem Iramaya trocava cartas regularmente e de quem se tornou amiga e confidente. O filme, narrado pela diretora, é entremeado, sobretudo, pelas leituras dessas cartas, depoimentos de Iramaya captados em diferentes momentos, fotografias, e imagens raras de arquivo (incluindo a emocionante chegada de César à Suécia e de seu encontro com o irmão Cid, também um exilado político).
“Este é um reconhecimento muito relevante para a carreira do filme, pois o IDFA é o maior e mais importante festival de documentários do mundo. Mas, mais importante do que o reconhecimento de um júri internacional, é conseguir fazer o filme de fato chegar até o público e abrir debates profícuos no Brasil. Esse é nosso próximo desafio. Estamos excitados para exibir e discutir o filme, sua temática e relevância nos dias atuais. Quero dialogar com quem pensa diferente de mim, contar tudo o que vim descobrindo ao longo desses anos de estudo e pesquisa. A gente passa, os filmes ficam. Eu faço cinema porque acredito sinceramente que é uma poderosa ferramenta para intervir na realidade do nosso país, construindo novas memórias e despertando novos sentimentos nas pessoas”, afirma a diretora.