Ainda pouco discutida, a depressão pós-parto é uma condição que acomete muitas mulheres durante o puerpério e requer tanto ajuda profissional, quanto o apoio da família. Com a pandemia e necessidade de isolamento social, certos gatilhos que contribuem para o quadro podem ser gerados ou maximizados, como explica a psicóloga e coordenadora do Núcleo de Depressão da clínica Holiste, Ethel Poll.

“Apesar de a pandemia gerar estímulos de medo e ansiedade, não acho que isso seja um fator diretamente responsável por um caso de depressão pós-parto. No entanto, tudo o que mexe com a expectativa que se criou em torno desse momento, como ter a presença de amigos e da família, por exemplo, pode ser desestruturante”, explica Ethel.

A especialista analisa o impacto deste acontecimento na vida da mulher. “No momento do parto, você sai do lugar de filha e passa para o lugar de mãe. Isso por si só desorganiza o psicológico. Gera impacto. Por ser um momento de fragilidade, podem ser desencadeados gatilhos que resultem num quadro depressivo”, completa.

Como perceber

De acordo com a psicóloga, é normal que a mulher se sinta desgastada nos primeiros 10 a 15 dias após o parto, sem que isso configure um quadro depressivo. No entanto, é preciso perceber quando, mesmo passadas as duas semanas, a mãe não consegue realizar atividades como levantar da cama, amamentar ou ficar próxima do bebê e até mesmo se irritar com o choro da criança. “Surgem muitos medos e um sentimento de inutilidade, de incompetência. Ideias como ‘não vou ser capaz de cuidar do meu filho’”, afirma Ethel.

Deve-se ter maior cuidado com pacientes que já desenvolveram casos de depressão anteriormente, pois nesse momento tudo pode ser um gatilho para um novo quadro. A especialista reforça que “é importante lembrar que as mulheres não têm que ser ‘supermães’ e têm o direito de adoecer. É preciso aliviar o fardo das mães nesse momento”.

Como ajudar

Nos casos de depressão pós-parto é fundamental que a família dê suporte e busque um encaminhamento para os profissionais necessários, como psicólogo e/ou psiquiatra. Ainda segundo Ethel, a família deve adotar uma postura de não cobrar ou exercer mais pressão sobre aquela mulher, evitando frases como “você é mãe, você tem que levantar da cama e cuidar do seu filho”, exemplifica. Deve-se buscar a compreensão:

“Mostrar que ela não está só, que tem ajuda. Lembrar que ela pode estar frágil nesse momento, mas que isso não quer dizer que ela vai ser uma mãe ruim. É só uma fase, tem tratamento e vai passar. É fornecer alívio”, recomenda.

Live

Para conversar mais sobre o tema, a Holiste realizará uma live na próxima quarta-feira (10). A transmissão acontecerá às 19h30 no perfil da clínica no Instagram (@holistepsiquiatria). Participarão do evento virtual a psicóloga, psicanalista e coordenadora do Núcleo de Depressão da Holiste, Ethel Poll, e a ginecologista e obstetra, especialista em parto humanizado e diretora médica da clínica Angiclin, Camila Rabelo.

A live vai ser aberta a perguntas do público e as especialistas irão discorrer sobre temas que envolvem a depressão pós-parto, como: gestação, hormônios e a idealização em torno da maternidade. As convidadas também falarão sobre como a expectativa da maternidade pode ocasionar ou não uma depressão e também como se preparar para esse momento.