Quando lançou, em setembro, o seu livro de estreia, a psicóloga e escritora baiana Ana Cecília Ferreira tinha o desejo de resgatar sua trajetória e fazer as pazes com momentos do seu passado. “Parida pela Liberdade” traz à tona histórias marcadas por dores e desencontros, mas também os amores, a superação e as memórias da beleza de ser filha de uma Yalorixá que acolhia e transformava em filhos os que entravam em sua casa.
Desde o lançamento, o livro e sua autora tem trilhado uma trajetória de sucesso, com a presença na Bienal do Livro Bahia, na Flica (Cachoeira) e Flipelô. No último dia 15, Ana Cecília foi uma das convidadas da roda de autoras “Palavras Inscritas” na Bienal, quando falou sobre seu processo criativo. Na Flipelô, Ana Cecília marcou presença prestigiando autores e autografando seus livros. Na Flica, o livro foi destaque no stand da editora Pinaúna, responsável pela publicação. “Foi uma experiência incrível, a realização de um sonho e disseminação afetiva da obra”, descreveu a autora sobre a presença nos eventos. No final de outubro, ela esteve na Mostra Literária Dom Quixote, no Cine Teatro de Lauro de Freitas.
Ana Cecília cresceu em uma casa humilde em Salvador, e teve, na estrutura familiar, o incentivo e investimento necessários, apesar das dificuldades financeiras, para ter acesso a uma educação na rede privada. Frequentando escolas particulares em uma realidade social por vezes distinta da sua, e sendo filha de uma yalorixá, os momentos em que os colegas tinham acesso ao seu mundo – por exemplo, nas idas no transporte escolar para casa – eram sempre marcados pelo bullying, como ser chamada de filha de feiticeira. Somado a isso, a aparência física de Ana – uma criança muito magra que usava óculos – não passava alheia ao olhar dos colegas, que praticavam agressões verbais. Este foi o cenário onde ela se viu nascer como escritora, já que a raiva e a vontade do revide, que por muito tempo a fizeram ser uma criança agressiva no contexto escolar, foram, depois, transformadas em texto, ajudando-a a transformar a dor em poesia.
O livro conta com poemas curtos e textos breves em prosa poética, costurados pelas visões sobre a vida propostas pela autora. “O livro fala sobre essa mulher que sou, vestida das suas histórias, dores, amores e para onde essas mesmas histórias me levaram e por onde me permitir ser levada até aqui. Fala do início da escrita como lugar de resgate e salvação em reflexo aos arrochos do bullying nos tempos de infância. Fala poeticamente e de forma especial em um capítulo honroso do convívio com uma mãe yalorixá, mãezona e grande mulher que acolhia e transformava em filhos todos que adentravam a casa dela ou cruzava seus caminhos”, conta.
Ana Cecília é psicóloga e atua na clínica com adultos e casais, faz consultoria em empresas, coordena projeto de mulheres e faz palestras voltadas para qualidade de vida, novos caminhos e possibilidades de cuidar de si – práticas talvez influenciadas pela sua própria trajetória de superação.
A escrita do livro foi um processo espinhoso e prazeroso ao mesmo tempo, revela: “Trouxe à memória várias e várias vezes os espinhos, mas também tive certo orgulho do trabalho lindo de ter me transformado, não acreditado nos horrores nem focado nas dores, mas expandido nas possibilidades que se abriam à minha frente. Foi lindo encontrar minha mãe de um outro lugar, fazendo-a ser exatamente quem ela sempre mereceu”.
Mais informações sobre o lançamento no perfil do Instagram da autora: @annaceciliafs.