De 5 a 15 de dezembro, às 19h, o Teatro Martim Gonçalves será o palco de Charlie, espetáculo que marca a conclusão do curso de Direção Teatral de Gilberto Reys na Escola de Teatro da UFBA (ETUFBA). Esta é a primeira montagem da peça no Brasil.
Em Charlie, comédia do Teatro do Absurdo, um oculista (Felipe Viguini) enfrenta uma situação inusitada: um avô (Franklin Albuquerque) e seu neto (Guti Nery) pedem um par de óculos com um propósito peculiar – encontrar e atirar em Charlie. O que parece uma trama absurda logo se transforma em uma jornada hilariante e sombria, repleta de diálogos desconcertantes e situações que desafiam a realidade.
“Escolhi Charlie para minha formatura porque é uma montanha-russa de emoções! A peça faz você sair inquieto, sem saber se ri ou se chora. Mostramos como um homem comum pode se transformar em um assassino, e isso faz pensar: será que somos capazes de cometer atos horríveis? Trabalhar com os atores neste texto me permitiu criar um universo repleto de emoções, algo que mantém o público na ponta da cadeira, sentindo tudo ao mesmo tempo. A história é de arrepiar: dois homens ameaçam outro para alcançar seus objetivos, mostrando um mundo onde o mal é banalizado e a normalidade é perturbadora.”, revela o diretor.
A encenação – Gilberto Reys entrega uma montagem que equilibra o cômico e o lúgubre, inspirada na estética do cinema mudo. O contraste entre o universo sombrio da violência e a fragilidade do protagonista cria uma atmosfera opressiva e, ao mesmo tempo, absurdamente hilária. A encenação é um convite à reflexão sobre os limites da empatia e as raízes da violência na sociedade.
Com uma trajetória que une atuação, produção e direção, Gilberto Reys atua no teatro desde 2011. Formado pela Universidade Livre do Teatro Vila Velha e em conclusão na ETUFBA, Reys já dirigiu espetáculos como Auto de Cangaço e Amor em Angicos (2022), A Exceção e a Regra (2023) e Fala Comigo Como a Chuva e Me Deixa Ouvir (2024). Como ator, esteve em montagens notáveis como A Visita da Velha Senhora (2024) e Jango, de Glauber Rocha.
A Cia Sexta-feira de Teatro – Fundada em 2020, a Cia Sexta-feira de Teatro é um coletivo que une apuro estético a discursos politizados e poéticos. Com direção artística de Gilberto Reys, a companhia já produziu espetáculos como Auto de Cangaço e Amor em Angicos, Arte da Comédia e na performance Território do Ócio.
Entram em cena em Charlie
Guti Nery – faz o “neto” – Ator, diretor, professor e palhaço, com Licenciatura em Teatro pela Universidade Federal da Bahia e em Pedagogia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro-SP. Em 2008, integrou a Cia Teatro da Queda, colaborando com Thiago Romero em pesquisas e montagens que exploravam a linguagem performativa e o desenvolvimento artístico. Neste coletivo, atuou e foi diretor assistente em espetáculos como ARDE!, -escape-, córtex, BACAD e Breve. Também integrou o elenco de Revelo e do premiado Rebola.
Como supervisor de arte e cultura do Salesiano do Salvador, Guti tem contribuído significativamente para o fortalecimento da arte-educação em sua comunidade. Na FOCO Usina de Artes Cênicas, ele participa de diversas iniciativas educativas e culturais, dedicando-se à revelação de jovens talentos e na busca pela excelência artística. Atuou ainda no espetáculo infantojuvenil indicado Inventa-Desinventa, reforçando sua parceria com o saudoso e amado mestre Osvaldo Rosa.
Franklin Albuquerque faz o “vovô” – Ator, formado pelo VI Curso Livre de Teatro da UFBA. Formado em Interpretação para Cinema pelo Studio Fátima Toledo- SP. Participou de espetáculos dirigido por José Celso Martinez Corrêa (Teatro Oficina Uzyna Uzona – SP), Gerald Thomas (Cia Opera Seca – SP), Márcio Meirelles (Teatro Vila Velha – BA), e Hebe Alves (UFBA). Estudou técnicas de interpretação com Denise Stoklos (SP), Bete Coelho (SP), Renato Borghi (SP), Harildo Deda (BA). Formado em Canto Popular pela EMESP TOM JOBIM (Escola de Música do Estado de São Paulo) (SP).
Felipe Viguini faz o “oculista”- Ator e iluminador, Bacharel em Artes Cênicas pela UFBA (2013-2017). Já atuou em espetáculos como As Confrarias (2014-2015) com direção de Paulo Cunha, Avesso (2016-2017) com direção de Guilherme Hunder, Woyzeck (2017-2018) com direção de Caio Rodrigo, Zucco (2018) com direção de Gil Vicente Tavares, Batalha de Improvisação Teatral (2017-2019) com direção de Daniela Chávez, entre outros. Sua participação mais recente foi em Amores que Matam (2024) junto ao projeto Clube da Cena do grupo Argonautas com direção de Marcelo Flores.
O Autor, Sławomir Mrożek – Sławomir Mrożek, renomado dramaturgo polonês, é reconhecido por sua genialidade no uso do humor ácido e do absurdo como ferramentas de crítica social. Autor de obras icônicas que dialogam com temas como o totalitarismo, a alienação e a condição humana, Mrożek marcou sua trajetória no Teatro do Absurdo durante os anos 1950 e 1960. Suas peças são representações poderosas das contradições do mundo contemporâneo.
No Brasil, suas obras já foram encenadas em montagens memoráveis, incluindo Tango e Em Alto Mar, ambas realizadas na Escola de Teatro da UFBA com elencos de destaque. A inclusão de Charlie neste repertório amplia o legado de Mrożek, apresentando uma de suas histórias mais impactantes ao público brasileiro.
A obra explora questões profundas, como a universalidade da violência e seus impactos, levando o público a refletir sobre a natureza do medo e do poder. A frase emblemática “Você é alfabetizado e daí? Nós temos medo de você? Não, você que tem medo de nós” sintetiza o clima de tensão e provocações que permeia a narrativa.
Fotos Diney Araújo