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Depois de transformar o Teatro Sesc Casa do Comércio na Praça Castro Alves, Lan Lanh e Mário Soares Num Axé Pra Lua vai carnavalizar o Largo de Quincas Berro D´Àgua, na segunda-feira (17), às 20h, no Pelourinho. Aberto ao público, neste show o violinista Mário Soares e a percussionista Lan Lanh voltam a mergulhar na música afro-brasileira numa criativa apresentação com momentos memoráveis que fez o público saltar das cadeiras.
Uma energia explosiva, o fio terra enfiado na baianidade e o barro do chão, o Nordeste, se revela em toda sua exuberância rítmica e melódica, desde Luiz Gonzaga a Luiz Caldas. Ali no palco, a força do trio elétrico de Dodô e Osmar se fez presente de muitas formas. A mais importante e inovadora tem o espírito de O futuro é ancestral. É como se o violino se tornasse – ou voltasse a ser – a voz do trio elétrico, com roupa nova, mas linhas costuradas ao passado para recriar o futuro. É um encontro de almas. Surpreendente”, afirma a jornalista Isabela Larangeira.
Ninguém consegue ficar parado com o diálogo entre as melodias e acordes clássicos, brasileiros e caribenhos do violino de Mário com a batida de Lan Lanh, que mistura o pop com o sagrado dos terreiros. Os dois contam com a companhia de músicos de peso: Ruan de Souza (violão), Alexandre Vieira (baixo) e Robinson Cunha (bateria).
No título, o show festeja a primeira canção de Luiz Caldas a tocar no rádio, Axé pra Lua, três anos antes de o cantor, compositor e multi-instrumentista lançar a axé music, que comemora 40 anos. Uma homenagem que se estende à música baiana e à diversidade do autor de Fricote, que dedicou aquele primeiro sucesso ao Velho Lua, apelido de Luiz Gonzaga, inevitavelmente presente no dueto dos musicistas.
“Quem espera uma conversa entre os instrumentos dentro dos âmbitos tradicionais dos musicistas quebrou o queixo. O violino de Mário e a parede percussiva de Lan Lanh tornaram-se protagonistas numa ode à música brasileira baiana e caribenha”, No palco, os dois escalonam encontros memoráveis como o do violino/berimbau, instrumento bem estereotipado na cultura baiana, e o violino/cajón (acentuando todo um sotaque latino marcado pelo show”, afirma Sérgio Maggio, jornalista, dramaturgo e diretor teatral.
“Nosso encontro e o repertório ratificam essa abertura para vários espectros da música, tirando o violino do lugar exclusivamente erudito e trazendo a percussão para um diálogo paradoxalmente harmônico. Ritmo no violino e harmonia no batuque”, descreve Lan. “O encontro do violino com o universo percussivo de Lan Lanh nos traz um mundo de possibilidades e cores. A sonoridade rica e diversa que orquestramos é desafiadora e surpreendente!”, define Mário.
Já que o legado da Mãe África é o eixo central do show, sempre é bom garantir a bênção dos orixás. “Vamos começar pedindo licença a Iemanjá, com Batuque nas Águas (Naná Vasconcelos), Sereiar (Lan Lanh/ Robson Nonato) e Sexy Iemanjá (Pepeu Gomes), para abrir o show que traz o DNA de dois artistas que navegam por mares do afro, seja no baião de Qui nem jiló (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) ou no Lamento Sertanejo (Gilberto Gil/ Dominguinhos), canções que Mário Soares trouxe pro repertório”, conta Lan.
Para fechar, os dois homenageiam Osmar Macêdo, um dos pais do trio elétrico, com o frevo Taiane, e Moraes Moreira, primeiro artista a levar voz às “multidões sem cantor” do trio elétrico.
“A dupla de virtuoses termina o show com as referências às origens do trio elétrico e dos frevos de Dodô & Osmar”, destaca Maggio, com a jornalista Isabela Politano acrescentando que “o violino é genuinamente deslocado para o lugar a guitarra baiana”.
Lan Lanh define seu encontro com Mário Soares tomando emprestada a expressão “forroxé”, desse sucesso inicial de Luiz Caldas, ou seja, Nordeste com axé. Mário descreve essa relação no show: “À medida que o violino se revela, também, como uma rabeca, esteticamente, no toque, nos acompanhamentos, na maneira de interpretar, Lan Lanh traz o pandeiro, uma percussão que vai para esse lugar do barro do chão, do sertão, e esse lugar celebra a região Nordeste”.
No show, Lan toca um medley com músicas do Velho Lua e ritmos afins, como baião, ijexá, xote, coco. “Todo show eu faço isso”, conta. Mário também toca Gonzaga e dimensiona sua importância: “Luiz Gonzaga é o rei da estrutura levada pro país inteiro que fez com que o Brasil respeitasse, entendesse e lesse de forma mais ampla o Nordeste’’.