O regressar, tempo para renascer. Rito de passagem de tempo espiralar. É o vento que leva o corpo-cavalo-espírito-encantado do ayê para o orum. Para quem ‘cavalo’ permanece, a dor é impossível mensurar. Falar de morte no mundo ocidental ainda é doloroso, principalmente, se for para as infâncias. A morte é tabu, é assunto muitas vezes silenciado.

É, neste provocar cíclico da vida, que o coreógrafo Márcio Fidélis e o diretor de teatro Guilherme Hunder juntam-se para criar o espetáculo cênico musical de dança “INFINITO”, que estreia na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, de 02 a 10 de novembro, aos sábados e domingos, às 16h. A montagem, que é uma produção da Márcio Fidélis Cia de Dança, tem a assistência coreográfica do bailarino Kenuu Alves.

Em cena, os dançarinos e dançarinas Alisson Farias, Filipe Maroto, Gabriela Pequeno, Jennie Costa, Kenuu Alves, Raijane Gama. A coreografia é conduzida pela narrativa do personagem Tayó, um menino muito ligado à avó, que transcende e a morte de quem tanto o acarinhou o entristece, a perda daquela que era colo e acolhida.

INFINITO é uma coreografia que se inspira nos folguedos da cultura popular para abordar o tema da morte de forma sensível, poética e com referências às manifestações da cultura popular e afrodiaspóricas. Algumas destas, levam às ruas diferentes formas e narrativas de lidar com a morte, como por exemplo, os Mandus, Os Zambiapungas e as Careta do Mingal, com referências ainda ao Nego Fugido do Acupe.

“INFINITO é construído a partir de uma perspectiva cênica musical de dança, algo muito próximo do que são os folguedos. A obra é um espetáculo que traz um diálogo da dança contemporânea com as populares e as danças modernas, a partir de olhar artístico direcionado ao público infantojuvenil. Tudo isso tendo a musicalidade e a dramaturgia criada por Mônica Santana como fios condutores para o processo de criação e da movimentação que vai para cena”, pontua Márcio Fidélis, ao acrescentar que a obra tem uma trilha sonora inédita criada por Filipe Pires e música original assinada por Ray Gouveia.

A dramaturgia se inspira nos contos yorubás que desdobram nas coreografias. Uma delas é a dança da travessia, conectando-se às lendas da yabá Iansã, da mitologia yourubá-nagô. “O espetáculo toma como norte a palavra infinito, considerando que a vida é uma passagem e a morte não é um fim. Esta é uma perspectiva da cosmogonia africana basilar para construção do espetáculo”, declara Guilherme Hunder, que também assina o figurino da obra.

Estas manifestações, que possuem direcionamentos coreográficos e grande irreverência visual, ditaram o processo criativo de coreografias, bem como a visualidade do espetáculo (cenário e figurino), que funde dança contemporânea e danças tradicionais da Bahia. Considerando o público alvo e a natureza polissêmica da dança, o espetáculo também intersecciona com a linguagem teatral trazendo diálogos curtos, textos gravados e congêneres.

Fotos por Diney Araújo