Nesta exposição comemorativa – 20 anos de uma instituição compromissada em se renovar para oferecer ao público um programa de qualidade, tanto de exposições quanto de atividades culturais e educativas –, os curadores Paulo Miyada e Priscyla Gomes trazem novo olhar para a obra de Tomie Ohtake, nesta exposição realizada com os patrocínios do Bradesco, na cota Apresenta, e Motorola, na cota Ouro.

Em Tomie Ohtake Dançante, a dupla de curadores investiga se a pintura dança, ou se é possível dançar com a pintura. “Palavras como movimento, gesto, matéria, ritmo, corpo, espaço, deslocamento, partitura e coreografia, antes mesmo de serem articuladas em uma sentença verbal, misturavam-se na hipótese de que na obra de Tomie Ohtake se dança, de que Tomie é dançante”.

Além da seleção de obras, para preparar a exposição os curadores conversaram ao longo de seis meses com coreógrafos e coreógrafas de perfis e trajetórias diversos, capazes de imergir na produção plástica de Tomie Ohtake. Neste período os convidados conceberam obras em diálogo com a casa e a produção de Tomie e realizaram ensaios abertos na casa-ateliê da artista, compartilhando os respectivos processos com o público. Essas peças farão parte da exposição com intuito agora de ocupar e ativar diferentes espaços do Instituto Tomie Ohtake. Em novembro acontecem as apresentações de Emilie Sugai (21.11), data de aniversário de Tomie, e Rodrigo Pederneiras (26.11). Os horários e demais apresentações podem ser acompanhados pelo site e instagram do Instituto Tomie Ohtake.

Segundo os curadores, ao revisitar a obra de Tomie, encontraram algumas ênfases plausíveis para uma abordagem do que há de dançante no seu fazer e no seu experienciar. “Em decorrência dessas ênfases, organizamos esta exposição com 45 obras, em três atos, três ambiências que conjugam seleções de pinturas de Tomie Ohtake com recursos expográficos escolhidos para intensificar a consciência sinestésica do corpo, do espaço e do movimento que atuam na percepção da imagem pictórica”, destacam Miyada e Gomes.

No primeiro ato, rasgos e combinações, estão reunidas pinturas da década de 1960, quando Tomie realizava estudos com papéis coloridos retirados de revistas, convites e outros impressos, rasgados à mão e agrupados em pequenas colagens. O conjunto ressalta a recorrência de pedaços e formas que, com suas bordas tremidas, giram, multiplicam-se, ocupam diferentes posições, saltam de um lado para o outro, de uma tela para a outra. Os curadores ressaltam que para acompanhar o ritmo dessa coreografia, o passo do visitante que adentra o ambiente é surpreendido pela maciez do piso revestido de espuma. “Trata-se de uma sutil quebra da convenção museológica, apenas suficiente para lembrar a cada pessoa que ela também tem um corpo, e que cada movimento depende do encontro do gesto habitual com a consistência do espaço em que se pisa”.

Já em tatear a matéria sob uma penumbra, focos iluminam pinturas criadas pelo enfrentamento dos movimentos de Tomie Ohtake com a substância pictórica, sua densidade e transparência. No centro desse ambiente estão as chamadas “pinturas cegas”, da década de 1960, de grande gestualidade: pinceladas feitas de olhos fechados. Compõem este ato, pinturas realizadas a partir da década de 1980, que remetem diretamente à materialidade da tinta acrílica, à solvência de seu pigmento na água, cujas pinceladas compõem movimentos ritmados.

Por fim, planos e profundidades é o ato de conclusão da mostra, com pinturas produzidas desde a década de 1970 até 2010. Em um espaço amplo, planos pendentes do teto sucedem-se em um ritmo de diferentes alturas, larguras e distâncias. “Esse recurso remete à cenografia de Tomie Ohtake para a ópera Madame Butterfly (1983), em que simples planos de cor dispostos em profundidades distintas eram suficientes, segundo a artista, para sugerir tanto contextos e espacialidades quanto estados emocionais de seus personagens”, lembram os curadores. Esse ambiente pictórico coloca o visitante em deslocamento entre imagens que são em si mesmas sugestivas de movimento e acolhe uma pintura em grande escala – 10 metros de comprimento – que Tomie concebeu para a inauguração do Instituto e só agora volta a ser exibida. “Uma obra que em si mesma desenha a coreografia de uma linha no espaço”, completam Miyada e Gomes.