A lavradora Luciete Santana, 39, tinha o sonho de poder ir para casa com sua filha, Emily, 6. Com paralisia cerebral, a menina, que depende de aparelhos para se alimentar e respirar, precisou ficar internada por quase um ano até que sua mãe fosse treinada por profissionais da Unidade de Treinamento de Desospitalização (UTD) do Martagão Gesteira e, assim, pudessem retornar para casa.

O caso de Emily é semelhante ao de mais de 140 crianças portadoras de doenças crônicas que, nos últimos dez anos, receberam alta e puderam voltar para casa sem terem seus tratamentos interrompidos. Todas foram pacientes da UTD do Martagão, setor do hospital que treina mães e pais para poderem cuidar dos próprios filhos.

Nesta quarta-feira, 25, a UTD, única do estado e referência do país, completa 10 anos. Caso as mães desses pacientes não fossem treinadas pelo setor, elas teriam que acompanhar seus filhos internados sem previsão de alta e praticamente “morar” no hospital, afastando-se de outros filhos, familiares e amigos.

Na maioria dos casos, são situações de pacientes com longo tempo de permanência em UTI’s, que dependem de ventilação mecânica e que passam a poder retornar para seus lares mesmo precisando de tecnologias avançadas para sobreviver. Já houve casos de pacientes, por exemplo, que ficaram internados por quase dois anos.

Moradora de Jeremoabo, Luciete Santana conta que trouxe a filha para Salvador, para fazer um exame. “Descobrimos que ela tinha leucemia, foi para a UTI em outro hospital, mas pegou uma infecção. O quadro evoluiu para paralisia cerebral. Em seguida, foi transferida para o Martagão. Eu praticamente morava no hospital. Não saia de perto da minha filha. Tive que ficar em Salvador e me afastei da minha família”, relata.

Na UTD, as mães são treinadas durante meses para poderem dar continuidade à assistência dessas crianças, que permanecem sendo acompanhadas pelo hospital, quando residentes em Salvador e Região Metropolitana.