A menopausa, uma fase natural e inevitável na vida de toda mulher, pode trazer consigo uma série de desafios de saúde, e um dos mais relevantes, porém muitas vezes subestimado, é a sua relação com o diabetes. Milhões de mulheres em todo o mundo enfrentam essa conexão complexa, que pode impactar significativamente sua qualidade de vida. Por isso, é fundamental que haja maior conscientização, diagnóstico precoce e suporte adequado para lidar com essa interseção de condições, conforme explica o médico ginecologista especializado em saúde metabólica e longevidade, Dr. Jorge Valente.
Segundo ele, durante a transição menopáusica, as flutuações hormonais, em particular a diminuição dos níveis de estrogênio, exercem uma influência direta sobre a forma como o corpo gerencia a glicose. “Essa alteração hormonal pode levar a um aumento da resistência à insulina, fazendo com que as células do corpo se tornem menos responsivas à ação desse hormônio cuja produção acontece no pâncreas e, consequentemente, elevando os níveis de açúcar no sangue”, destaca o médico. “Adicionalmente, o ganho de peso, que é comum nessa fase da vida, e a redistribuição da gordura corporal para a região abdominal (obesidade central) são fatores que contribuem significativamente para o risco de desenvolver diabetes tipo 2 ou agravar um quadro já existente”, completa Dr. Jorge Valente.
Sintomas a ficar atenta
Os sintomas do diabetes, especialmente na menopausa, podem ser silenciosos e, por vezes, facilmente confundidos com os próprios sinais da transição menopáusica, o que pode atrasar o diagnóstico. Por isso, o médico afirma que é importante estar atenta a sinais como: aumento da sede e micção frequente – particularmente durante a noite; fadiga e falta de energia persistente – mesmo após períodos adequados de descanso e visão embaçada – flutuações nos níveis de glicose podem temporariamente afetar a acuidade visual.
“Outros sintomas como a cicatrização lenta de feridas; infecções frequentes (especialmente infecções urinárias e fúngicas recorrentes); formigamento ou dormência nas mãos e pés, fator considerado um indicativo de neuropatia diabética e a perda inexplicável de peso apesar de um apetite normal ou até mesmo aumentado, também merecem atenção”, alerta o especialista.
Dados que preocupam
A intensa relação entre menopausa e diabetes é confirmada por dados estatísticos que ressaltam a necessidade de atenção. Estudos demonstram que mulheres na pós-menopausa apresentam um risco significativamente maior de desenvolver diabetes tipo 2 em comparação com as mulheres na pré-menopausa.
Segundo dados resultantes do estudo EPIC-InterAct “Idade na menopausa, expectativa de vida reprodutiva e risco de diabetes tipo 2”, realizado na Itália, Espanha, Reino Unido, Holanda, França, Alemanha, Suécia e Dinamarca, aproximadamente 30% das mulheres na menopausa podem apresentar diabetes, e a prevalência de síndrome metabólica (um conjunto de condições que aumentam o risco de diabetes e doenças cardiovasculares) é notavelmente maior em mulheres após a menopausa. Além disso, a menopausa precoce (antes dos 40 anos) está associada a um risco três vezes maior de desenvolver múltiplas condições crônicas, incluindo diabetes tipo 2, na faixa dos 60 anos.
“Estes dados reforçam a importância de estratégias preventivas e proativas de cuidados. Isso inclui a adoção de hábitos de vida mais saudáveis, como por exemplo a prática regular de exercícios físicos, alimentação balanceada, hidratação adequada, controle de peso e boa qualidade do sono”, diz o ginecologista. Além destes, o especialista reforça também a importância do monitoramento glicêmico, com a realização regular de exames de medição de glicemia em jejum e de hemoglobina glicada (HbA1c), medidas consideradas essenciais o diagnóstico precoce e o acompanhamento eficaz da condição, permitindo ajustes no tratamento conforme necessário.
“Nunca é demais lembrar que o diagnóstico e tratamento adequado deve ser feito por um profissional qualificado, de maneira individualizada, conforme avaliação de cada paciente. Esse acompanhamento pode e deve ser feito de maneira multidisciplinar, associando o acompanhamento do médico ginecologista com o endocrinologista e o apoio psicológico realizado por um psicólogo”, ressalta o Dr. Jorge Valente.
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