Um rio e o seu aterramento. As vazantes e as cheias que levam e produzem com elas as histórias de um neto e o avô. Baseado no conto O Avô e o Rio, do escritor baiano Aleilton Fonseca – membro da Academia de Letras da Bahia, A Outra Companhia de Teatro estreou no último dia 08 de janeiro, com casa lotada e boa recepção do público, espetáculo homônimo com o Israel Barreto, primeiro solo do ator.

O Avô e o Rio fica em cartaz até o dia 30 do mesmo mês, sempre às terças e quartas, às 20h, na Casa d’A Outra, no bairro Politeama. No dia 16 de janeiro não ocorrerá apresentação. Os ingressos estão disponíveis para compra duas horas antes de cada sessão.

Com direção e adaptação dramatúrgica de Roquildes Junior, o espetáculo versa sobre a relação de um rapaz com o avô e o rio que margeia a casa onde vivem. Como o movimento das marés o narrador-personagem conta lembranças da infância, mergulha fundo nas questões e entranhas da sua biografia – a morte da mãe, desvenda mistérios a respeito da própria história e acompanha a batalha diária do avô para aterrar o rio.

O rio é rito de passagem, metáfora para contar uma convivência marcada por ensinamentos, respeito, de amor mútuo, ainda que em muitos momentos falte o afago, o carinho desse avô endurecido. Ao mesmo tempo, a peça nos leva a refletir na relação do avô com o rio em temas que envolvem a interferência do homem na natureza, mesmo não sendo a abordagem direta: a transposição dos rios; o desmatamento das vegetações às margens dos rios impactando no seu ecossistema; a subsistência das populações ribeirinhas.

“Em O Avô e o Rio vemos uma relação forte entre esses dois personagens e isso me aproximou do texto desde que li enquanto ainda era estudante de letras e pesquisador da obra do professor Aleilton Fonseca, ele transcreve uma relação que tive com meu avô, que me contava histórias e que apesar de não ser muito afetuoso no toque, tinha um amor grande por mim e eu por ele”, recorda Roquildes Júnior, que apresentou o texto a Israel Barreto e decidiram encená-lo, selando uma parceria de 10 anos n’A Outra Companhia.

Israel conta que, em 2017, enquanto circulava com A Outra Companhia pelo Palco Giratório do Sesc, com os espetáculos Ruína de Anjos e O Que De Você Ficou em Mim, Roquildes Júnior apresentou o livro Jaú dos Bois, do Aleilton Fonseca e o pediu que olhasse com carinho ao conto O Avô e O Rio. “Fiquei encantado na primeira leitura. Esse conto fala de determinação, de coragem e de saudade. Daí Roque fez o desafio: Vamos montá-lo?! Não pensei duas vezes e aceitei o convite”, acrescenta o ator.

O intérprete declara que três motivos o levaram a aceitar o convite: “Primeiro, o encanto que a história me causou ao retrata a determinação de um homem e os ensinamentos deixados ao neto. O segundo é o desafio de estar sozinho em cena no ano em que completo 10 anos como profissional de teatro. Era a hora de me lançar em novos desafios. O terceiro é colocar em prática toda a minha pesquisa sobre a preparação física para o ator em cena”, descreve.

A montagem tem a direção musical assinada por Roberto Cândido e é ambientada em canções com ambiente ribeirinho que transportam o espectador para um universo interiorano. A visualidade terrosa concebida por Luiz Buranga – responsável pela iluminação, cenário, figurino e maquiagem – nos conduzem a adentrar a casa, o quintal, o rio e todo ambiente ribeirinho cheio de metáforas.