Como gesto de amor, solidariedade e responsabilidade social, a Casa de Oxumarê, terreiro com quase 190 anos de existência, já executa rigorosamente as orientações das autoridades em saúde pública no combate à pandemia do Covid-19. Por esta razão, o atual babalorixá do terreiro, Silvanilton Encarnação da Mata, o Babá Pecê, decidiu suspender os rituais e celebrações no templo, até a segunda ordem. “Para que possamos conter esse vírus, precisamos todos, unidos, reduzir as possibilidades de contágio”, afirma o líder religioso. Ainda, segundo o babalorixá, é tempo de reaprender a viver e a conviver. “Estamos todos interligados. O confinamento está nos proporcionando rever a dimensão do tempo e o valor das coisas simples”, conclui.
De acordo com o povo de santo, a morte, Ikú, e Àrùn, a doença, já caminham entre nós desde que a humanidade surgiu. Entretanto, Ọlọ́run, o Grande Regulador do Universo – O Criador -, em sua sabedoria infinita, sempre nos proveu e sempre nos proverá. Babá Pecê acredita que esses percalços também são chances para que humanidade reavalie sua conduta, seus valores e princípios. “Diante dos desafios, é preciso nos conectar ao divino. É oportunidade de reconhecermos a fragilidade e a importância da vida, para que ela seja devidamente valorizada”, declara.
O Candomblé ensina a notar a presença divina na água, no ar, no fogo, na terra e no próprio corpo. Assim, a religião se estrutura em um conjunto de saberes e fazeres que, há milhares de anos, já se empenha em buscar equilíbrio cultuando as forças da natureza. Para os adeptos das religiões de matriz africana, as bases de nossa cultura nos dão a convicção na continuidade da vida e na permanente capacidade humana de reconstrução. E, munidos destas certezas, precisam manter a confiança, evitando boatos e mensagens incoerentes, que apenas servem para a difusão de energias negativas. A pandemia causada pelo Covid-19 é um exercício emergencial. É hora de agir com humildade, solidariedade e, sobretudo com fé.