“À margem”

“Olhava-te como à beira de um abismo
debruçado sobre a fenda escura dos seus olhos
a imaginar a luz que se escondia
Atrás da nascente de tantas dores.

Precipitava-me em desejos
Sem ver o risco do precipício.
Foste um salto cego
De quem viu o perigo
E desejou morrer no seu olhar.

No silêncio profundo
Onde o amor não se dizia,
E já nem carecia de voz,
Ouvi como pela primeira vez
E te fiz o último a poder falar.

Da outra margem
escutava o eco de batuques,
sentia sua alma traduzir o eterno.
e para atravessar esse sem fim de medos
meu amor tornou-se ponte,
aríete defronte seus portões
Para invadir os seus limites
E me deixar num sonho teu.

Porque te sonhando
Foi que me fiz coragem
E não te saber
Na outra margem
Já não importava.
O que eu sabia
Era que me desconhecia
Antes de desfolhar-me por você.

O que eu pressentia
era que te queria
antes de haver sua presença,
e as minhas mãos
molhadas no vazio de tanto nada
ansiavam te preencher de tudo.
Ficávamos no instante
do beijo por vir,
À margem do mundo
Emancipados do tempo.” (André Silvany)

 

SOBRE O AUTOR:

André Luis Silvany; Médico Residente em Anestesia do Hospital Sírio Libanês

André Luis Silvany;
Médico Residente em Anestesia do Hospital Sírio Libanês