Memorabília é um conjunto de fatos ou coisas que se guardam como lembrança. “Aquilo que faz lembrar, que traz consigo uma memória”, diz o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Foi a partir da própria memorabília, carregada de histórias, objetos e afetos, que a jornalista Bruna Castelo Branco escreveu Caminho pro Céu: lembranças de um tempo não muito distante. O título, publicado pela Editora Penalux, será lançado na próxima quinta-feira (09), às 19h30, na Porto dos Livros, e reúne memórias que tem como objetivo, a partir das lembranças de três mulheres, resgatar algumas histórias da vida privada de pessoas comuns do sertão baiano do século XX. Nas histórias, a autora encontra um ponto de costura entre a ficção e a realidade incontestável dos fatos históricos.
A obra é uma narrativa biográfica que remonta a vida de Petronila Calasãs a partir da perspectiva das suas três filhas, Francília, Benedita e Coralina, em busca de preservar as memórias afetivas de um tempo. Uma obra construída com memórias, mas também expandida aos alcances da imaginação, como afirma a autora, seu enredo é formado “por retalhos de lembranças embaraçadas e distorcidas pelo tempo”.
Petronila nasceu em 1901 em uma família de classe média e, já casada, viveu uma vida luxuosa para os padrões do sertão. Com quatro filhos, foi abandonada pelo marido e precisou reestruturar a vida do zero, sem dinheiro ou um lugar para morar. Alguns anos depois, o marido reapareceu e, acometido por uma doença terminal, pediu abrigo, levando Petronila a cuidar dele até a morte. Na terceira idade, seus filhos a levaram para um asilo, onde morou até o fim da vida.
Além de resgatar aspectos da cultura e do dia-a-dia das famílias sertanejas da época, o livro também trata de temas como machismo, abandono e pobreza. Assim, Caminho pro Céu reúne em uma linguagem predominantemente poética, dados do Ipea e do IBGE, que se referem aos asilos brasileiros, e estatísticas referentes à fragilidade das mulheres nos casamentos, condição que persiste na atualidade.
“O que me impulsionou a escrever este livro foi perceber que essa história representa um grupo social: moças que tiveram suas vidas destroçadas depois de um casamento abusivo. Abandonada pelo marido com quatro filhos para criar, Petronila foi uma entre as centenas de mulheres que, sozinhas, precisaram aprender a viver em uma sociedade severa e patriarcal”, destaca a autora.
O livro conta ainda com imagens de arquivo pessoal do início do século passado. “As fotos não foram escolhidas para apenas remeterem à época em que foram tiradas, mas ressignificá-la”.