A faixa semiárida brasileira, que corta o norte de Minas Gerais até o Ceará, — envolvendo 8 dos 9 estados da região Nordeste, exceto o Maranhão — é marcada pelo cultivo de cactos. Considerado o centro de riqueza das suculentas no Brasil, segundo pesquisa do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Governo Federal, a faixa nordestina abriga 100 espécies nativas de cactos, o equivalente a 6% das 1500 espécies catalogadas ao redor do mundo.

Comumente encontrados no interior do estado, mas com forte apelo cultural e decorativo nas grandes cidades, os cactos têm garantido presença nos lares dos brasileiros. Nascida no interior de Uauá — 438 km de Salvador —, a baiana e dona de casa Ednalva Almeida conta que as suculentas sempre fizeram parte da sua vida, mesmo quando não morava na capital.

“É uma planta forte, que geralmente cresce no sertão (caatinga) por se sobressair em ambientes com pouca chuva. Para o uso decorativo, eu gosto particularmente do cacto pela resistência. Se você viajar, por exemplo, é uma planta que não irá definhar em poucos dias. Gosto muito de ter cactos em casa porque não dá trabalho nenhum”, brinca a dona de casa, que em seguida complementa “coloca no sol e uma ‘aguinha’ de 15 em 15 dias que ela está feliz com você”, conta.

O uso de plantas na decoração de casas e apartamentos, segundo o arquiteto baiano Márcio Barreto, é uma febre entre os brasileiros. O profissional explica que, pelos cuidados simples e abundância de suculentas na região, os cactos vêm sendo uma das plantas mais procuradas para compor o lar, encantando os nordestinos apesar dos espinhos.

“Além do apelo estético, é comprovado a capacidade que as plantas tem de renovar a ‘energia’ da casa. Para isso, investir em plantinhas, principalmente em suculentas, pode ser uma boa escolha para começar a primavera com mais alegria e cor. Pense na possibilidade de mesclar diversas espécies, trazendo mandacarus, caroa-de-frade e wachumas envoltos em pedrinhas de jardim para criar a decoração”, aconselha.

A frente do escritório “Arquitetura do Barreto”, Márcio aconselha colocar os cactos em varandas ou cantos de janelas para a exposição de luz natural. Combinando diferentes formatos de suculentas com tons esverdeados, o arquiteto explica que os cactos para uso doméstico permitem uma harmonia maior entre os elementos da casa, além de compor um jardim moderno e de tamanho maleável.

Explicando a rega e os cuidados com as suculentas, o empresário e diretor da “Cactus –  Força e Resistência” (Federação), Marcelo Alves, 41, afirma que é um engano comum acreditar que os cactos suportam situações inóspitas, como falta de luz solar, alocação em locais inadequados, a exemplo de lavabos sem janela, ausência de rega ou que vivem pra sempre. Segundo o profissional, o cacto de fazenda não deve ser usado como parâmetro para as plantas domésticas.

“Os cactos de casa ainda não se desenvolveram por completo, normalmente são espécies criadas em cativeiro, com necessidades bem diferentes das nativas. Uma característica bem simples de ser notada é a quantidade e tamanho dos espinhos. Por exemplo, nos mandacarus, queridinhos da decoração, é fácil notar a diferença dos espinhos de espécies nativas para as que cultivamos dentro de casa. E se engana quem acha que os espinhos são só para proteção deles perante os animais que querem a água que tem no seu interior, pois é pelo espinho que eles também consomem água, as vezes do orvalho ou até mesmo das chuvas”, explica.

Na visão de Marcelo, os cuidados são simples, embora aja alguns macetes. O diretor da “Cactus” afirma não existir uma regra de quantas vezes molhar por mês ou semana e que as regas devem ser feitas sempre que o solo estiver seco, verificando através da ponta do dedo. Outro ponto destacado pelo empresário é o reabastecimento dos nutrientes para as plantas, adubando o solo já esgotado em um prazo mínimo de 6 em 6 meses.

“Fora essas dicas, quanto mais luz direta ou indiretamente o cacto receber, melhor! O importante é conhecer bem a espécie que você está comprando. Pergunte tudo sobre ela ao seu vendedor, afinal cada espécie tem suas especificações. Não somos só nós, nordestinos, que somos apaixonados pelos cactos; acredito que o mundo todo descobriu que ter o verde dentro de casa nem sempre requer tanto trabalho, tantas regras, tanto cuidado”, conclui.
Para mais dicas sobre decoração com plantas, acesse o site arquiteturadobarreto.com, ou a página do Instagram @arquiteturadobarreto.