Violência física, psicológica, doméstica, violência que machuca o corpo e fere a alma, violência contra a mulher: este é o cerne de Sobejo, solo com a atriz Eddy Veríssimo, indicado ao Prêmio Braskem de Teatro, na categoria Melhor Atriz.
A peça, escrita e dirigida pelo ator, dramaturgo, diretor, figurinista, e também integrante do grupo, Luiz Buranga, volta a cartaz a partir do dia 20 de janeiro até 04 de fevereiro, sempre sextas-feiras e sábados, na Casa da Outra, às 20 horas.
Sobejo retrata a biografia fictícia da personagem Georgina Serrat, uma dona de casa que depositou a fé sobre sua felicidade no casamento e tem seus sonhos frustrados pelas agressões de um marido violento. Num misto de flashbacks e depoimentos, vemos uma mulher enclausurada em suas memórias, detalhando um cotidiano cruel e desenrolando uma teia que desemboca num final surpreendente.
A encenação que acontece num estreito corredor da Casa da Outra, no Politeama, constrói um ambiente caótico como metáfora para o caos presente na cabeça da personagem e vale-se da ressignificação de objetos para mostrar os diversos ambientes da trajetória da personagem.
A montagem tem cenário e figurinos, além da direção e dramaturgia assinados por Luiz Buranga. “Ao fazer este espetáculo tocamos numa ferida da sociedade coberta de gases e esparadrapos sem cicatrização, que a cada dia sangra mais e colocamos paliativos, maquiamos, suportamos a dor de um grito que não ecoa por muitos motivos: medo, status, dinheiro e a família apesar de tudo”, revela o autor e diretor.
Eddy Veríssimo, que também assina a produção do espetáculo, embarca em seu primeiro espetáculo solo após integrar o elenco de diversas produções teatrais como Ruína de Anjos (2015), Remendo Remendó (2011), e Arlequim – servidor de dois patrões (2004), montagem de fundação d’A Outra Companhia e que lhe rendeu a indicação ao Prêmio Braskem de Teatro na categoria Melhor Atriz Coadjuvante.
“Fazer Sobejo tem sido muito desafiante e aborda um tema tão caro para as mulheres de todos os lugares, em todos os tempos: a violência a qual nós, mulheres, somos submetidas o tempo inteiro. Fazer a peça mostra que precisamos gritar e não nos conformarmos nunca com essa situação”, conta Eddy Veríssimo.
A equipe do espetáculo conta com a direção de movimento de Anderson Danttas, que se vale da ressignificação de objetos para auxiliar a construção da dramaturgia corpórea da atriz. Esse é o mesmo caminho seguido por Israel Barreto, preparador corporal da montagem.
A trilha sonora é assinada por Roquildes Junior, que propõe o diálogo entre as referências musicais apresentadas na própria dramaturgia e uma textura urbana e ruidosa, sublinhando o impacto que os seguidos anos de violência causaram a personagem.
O espetáculo estreou em 2016, ano em que se celebra os dez anos da Lei 11.340 (Lei Maria da Penha), criada para oferecer mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.