A CAIXA Cultural Salvador apresenta, de 28 a 30 de julho de 2017, o espetáculo teatral Curral Grande, do Coletivo Ponto Zero. Dirigida por Eduardo Machado, a montagem é baseada na obra do pesquisador e dramaturgo Marcos Barbosa e circula pelo País desde 2014, arrematando vários prêmios.

A peça mostra a graça e a miséria de um povo que sofreu e vem sofrendo com os processos de higienização social presentes na história do Brasil. A encenação se utiliza de ares das décadas passadas, do cinema mudo e da rádio novela, elemento de forte presença na década de 30, permeando divertidamente as oito cenas independentes que relatam a história dos “Currais do Governo” nos campos de concentração durante a seca no Ceará.

O espetáculo é composto por cenas independentes, porém correlacionadas, que apresentam diversas facetas da história – através de personagens que moram em uma casa simples no meio do sertão, também uma família abastada da capital Fortaleza, assim como na cúpula do Governo até chegar, de fato, aos campos de concentração.

São quatro atores: Brisa Rodrigues, Brunna Scavuzzi, Carlos Darzé e Lucas Lacerda, que se revezam em mais de quarenta personagens, estabelecendo um “jogo” com formas estéticas diferentes: da construção realista à caricatura, do teatro épico narrativo à contação de história. A encenação faz referência também ao século passado, utilizando técnicas da rádio novela e do cinema mudo. O figurino base, por exemplo, remete às roupas íntimas da década de 30 e são sobrepostas pela roupagem específica de cada cena.

Segundo o autor da obra, Marcos Barbosa, “para aprofundar-se na história do país e em todos os seus entraves sociopolíticos é preciso não temer mergulhar na lama”. O trecho faz parte de sua dissertação, uma pesquisa que culminou na peça, escrita em 2003 pelo dramaturgo, junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA. “Há histórias que precisam ser lembradas. Não tenho a pretensão de dizer que precisamos lembrar delas para não as repetir. É preciso lembrar delas, justamente, para atentarmos ao fato de que as temos repetido”, explica Barbosa. “É uma peça sobre viver. Sobreviver é preciso. No meio de tantas contradições, o Ponto Zero foi o (re)encontro com nossa história, que parece que só se repete”, complementa o diretor Eduardo Machado.