Arte. História. Fé. Devoção. Em oficinas rústicas montadas em casas simples de Maragogipinho, no Recôncavo Baiano, mãos ágeis e firmes trabalham o barro e dão vida a esculturas de santos católicos que misturam o barroco e o rococó. Para celebrar essa tradição, o Museu da Misericórdia, da Santa Casa da Bahia, recebe de 8 de novembro a 2 de dezembro, a exposição Artesãos da Fé. A mostra conta com peças assinadas pelos mestres santeiros Rozalvo Santanna, João Santanna e Emanoel Ismarques e tem curadoria de Simone Trindade.
A exposição reúne mais de 40 esculturas. Em 2004, Maragogipinho foi considerado o maior centro cerâmico da América Latina ao disputar o Prêmio Unesco de Artesanato, no Caribe. “Expor as peças é uma maneira de dar visibilidade a esse trabalho manual, celebrar a cultura popular e valorizar nossa riqueza cultural”, avalia Simone Trindade.
Na exposição, ganham destaque as imagens de São Cosme e Damião, Santa Bárbara e São Miguel Arcanjo. Os visitantes poderão comprar as peças. O resultado financeiro das vendas será integralmente repassado aos artesãos.
O milagre do barro – Com muita habilidade e paciência, os três artesãos da fé, Rozalvo Santanna, João Santanna e Emanoel Ismarques, vêm dedicando a vida a transformar o barro em esculturas que encantam pela beleza e riqueza de detalhes. Dessa forma, ajudam a manter a tradição que pode desaparecer em Maragogipinho. A arte, passada essencialmente de pai para filho, não tem despertado o interesse das novas gerações da região.
Rozalvo aprendeu o ofício sozinho e hoje acumula algumas conquistas: com peças vendidas para diversos locais do Brasil e para alguns países do exterior, ele já venceu um concurso de presépios do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) em 1998 e teve fotos de suas obras publicadas no livro Grandes Mestres da Arte Popular Ibero-Americana. Além disso, ele afirma que tem cinco peças expostas no Museu do Catete, no Rio de Janeiro.
Mostrando que a paixão por essa arte vem de família, João é irmão de Rozalvo. Da inspiração fraterna, começou a esculpir suas próprias esculturas, participou de uma exposição em São Paulo há oito anos e teve também a oportunidade de expor suas peças no Relógio de São Pedro, em Salvador. Além disso, tem fotos de algumas obras publicadas no livro Santeiros da Bahia.
O mestre santeiro que completa a exposição é Emanoel Ismarques, que adota mais o estilo barroco nas esculturas e também recebe encomendas de todo o Brasil. Desde criança, ele tinha contato com a cerâmica, por influência dos pais e outros parentes ceramistas, mas foi o único que direcionou o trabalho para a arte sacra. Emanoel já enviou de presente ao Papa Francisco uma imagem da Imaculada Conceição e recebeu diretamente do Vaticano uma carta de agradecimento.