Composta por dezenas de fotos de Pierre Verger, está aberta a exposição “Orixás” no Museu da Fotografia Fortaleza, na capital cearense. A mostra é parte das ações comemorativas dos 30 anos da Fundação Pierre Verger, que funciona na mesma casa em que o fotógrafo Pierre Fatumbi Verger viveu durante anos, na Ladeira da Vila América, em Salvador. Com curadoria de Alex Baradel, responsável pelo acervo fotográfico da Fundação, a mostra traz 65 obras do artista autodidata que dedicou grande parte de seu trabalho ao candomblé, especificamente no candomblé Nagô-Ketu, e aos Orixás, deuses cultuados na religião afro-brasileira, cujas matrizes provêm de diversas regiões do continente africano.

A mostra, inaugurada no último dia 12 no Museu da Fotografia Fortaleza, indica como Verger revelou esta cultura e religiosidade para o mundo e destaca obras que apresentam cerimônias e características de cada orixá, além dos arquétipos da personalidade de devotos de cada divindade. “Orixás” ainda conta com ação tecnológica voltada para acessibilidade, através da qual deficientes visuais podem ter acesso à descrição de áudio sobre as obras, por meio de leitura de QR Code em dispositivos móveis.

Verger recebeu o nome de Fatumbi, “nascido de novo graças ao Ifá”, na África, para onde realizou diversas viagens entre os anos de 1948 a 1978, tornando-se um importante mensageiro entre a Bahia e a região do Golfo do Benim. “Até hoje, a obra de Verger constitui-se em uma inigualável fonte de informações sobre os cultos afro-brasileiros e revela elementos sobre as suas raízes africanas. O livro e a exposição “Orixás”, além do conhecimento, traz a poesia e criatividade plástica de Fatumbi, que, nesse contexto religioso, sabia o que fotografar, como fotografar e como apresentar, ou não, as imagens produzidas. As obras vivem em um lugar onde a imagem flutua entre o informativo e o poético, oferecendo, além da descoberta de uma religião e das suas raízes, uma viagem a um mundo onírico”, explica o curador Alex Baradel.unnamed-2

O artista foi um dos primeiros autores a destacar as influências culturais e religiosas recíprocas, tanto a das tradições africanas na Bahia, notadamente através do candomblé, quanto as da Bahia na África, por meio do retorno de brasileiros afrodescendentes, livres da escravização que, ao irem à terra de seus antepassados, levaram consigo conhecimentos culturais adquiridos no Brasil como as festas Bumba Meu Boi, Festa do Bonfim e influências na arquitetura.