Revoltado com o comportamento dos pais, Cosme Chuvasco de Rondó – o filho primogênito do barão de Rondó – decide subir às árvores e nunca mais descer. “Aquele que pretende observar bem a terra deve manter a necessária distância”, declara o protagonista do romance O Barão nas Árvores, vivido pelo ator, palhaço, circense, músico e produtor Marcos Lopes.

Inspirado no realismo fantástico de Ítalo Calvino, o espetáculo infanto-juvenil estreia no dia 01 de setembro e fica em cartaz até o dia 27 de outubro – todos os sábados, às 17h, no espaço arena Teatro Sesc Senac-Pelourinho. A peça tem direção de Guilherme Hunder e traz referências às tradições e canções da cultura popular, como o Cavalo Marinho.

O Barão nas Árvores é o primeiro solo dirigido por Guilherme Hunder, que vem se debruçando no estudo ao Teatro para infância e juventude. “Marcos Lopes é um amigo-irmão. Sou apaixonado por ele desde que entrou para Escola de Teatro e vi a destreza e competência dele em cena. Surgiu o convite carinhoso para que eu pudesse dirigir seu espetáculo solo. Era um desafio! Era o primeiro solo!  Não tinha como não aceitar. Afinal, é Marcos e Calvino”. A assistência de direção é de Antônio Fábio.

O Barão nas Árvores é um solo preenchido de poesia e singeleza, em um híbrido de música, teatro e contação de histórias. Misturando teatro, música e a dança para narrar as aventuras do Barão, a adaptação da obra de Ítalo Calvino parte de um lugar que no passado era próximo do universo infantil e hoje, infelizmente, tornou-se elemento desconhecido: as brincadeiras e manifestações da cultura popular nordestina.

O Barão nas Árvores traz ainda um pouco da linguagem do teatro de animação, brincando com objetos e bonecos. O solo – segundo infanto-juvenil do Coletivo Duo – trata um pouco sobre a relação da criança com o mundo, principalmente, com a família, além de discutir temas como sustentabilidade e meio ambiente, valores e cidadania, poder e amor.

“O espetáculo traz a posição da criança diante algumas situações que, muitas vezes, encaramos como dificultosas, contudo, em meio a brincadeiras, para elas é tudo fácil de resolver”, realça Hunder, que já disputou algumas vezes o Prêmio Braskem de Teatro, saindo vencedor em 2016 com a montagem Avesso, na categoria melhor espetáculo infantojuvenil.

A poesia e a paixão se misturam enriquecendo a trama. A dramaturgia – que tem um humor fino e sofisticado – traz ainda acréscimos e versos escritos por Marcos Lopes e Antônio Fábio. “O espetáculo busca trazer reflexões sobre as escolhas que fazemos, mesmo ainda criança, sobre preservação do meio ambiente e o poder de transformação que a arte tem em nossas vidas”, explica o ator.

Cosme vive como filho de nobres, mas não deixa de olhar e cuidar das pessoas da localidade, mesmo sendo pobres. “Ele vira um cidadão do mundo e faz de tudo para preservar esse mundo. Ele se apaixona por sua vizinha. Mas, acima de tudo, mantém uma história de amor com a natureza. Vira um militante do meio ambiente. Protege o vale, cataloga as árvores, planta novas, etc.”, adianta o ator, graduando em Interpretação Teatral na Universidade Federal da Bahia.

Toda a preparação corporal do ator é alicerçada na manifestação popular do Cavalo Marinho, folguedo da Zona da Mata de Pernambuco, com sua musicalidade, suas figuras, motes, passos. Para trazer a cena esta ferramenta corporal, o espetáculo contou com a preparação de Lineu Gabriel Guaraldo, ator paulista e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA (PPGAC) e brincador de Cavalo Marinho, que viveu durante sete anos no estado de Pernambuco.

Os carvalhos, olmos, azinheiras, oliveiras e tantas outras árvores que Cosme, O Barão nas Árvores vive terão os desenhos arquitetônicos do cenógrafoErick Saboya, formado em arquitetura e urbanismo tendo se especializado na cenografia e direção de arte para cinema, teatro, TV e música.