A poesia se constrói como uma costura, como uma caixa de pensamentos embaralhados que conduz o poeta à paciente atividade de desembaraçá-los e organizá-los em linhas para que o leitor possa se envolver. Foi a partir de emaranhados que a escritora e recém formada em psicologia Maria Luiza Maia costurou Todos os Nós, seu segundo livro de poemas. O título, publicado pela Editora Penalux, será lançado no dia 1° de setembro (domingo), às 16h, no Seven Wonders Café, localizado na Ondina. O livro reúne, a partir de linhas, tecidos, afetos e pedaços de mulheres, um conjunto de poemas que têm a personagem Clara como principal fio condutor.

Na obra, Maria Luiza tece uma narrativa em verso sobre a vivência da dor e a importância do luto. “A gente é fraco às vezes, e precisamos ser costurados para remendar algum buraco. Penso no livro como uma analogia ao que acontece após passarmos por um relacionamento abusivo. Não sei se todo mundo vai enxergar assim, acho que cada um vai encontrar um processo de recuperação de algo diferente”, explica a autora, que integra uma nova geração de escritores poetas baianos, marcada por publicações de caráter independente e autoral. Em cada poema, Maria é capaz de costurar delicadeza e intensidade, angústia e alento, brinca com opostos e revela sutilmente a singularidade da natureza humana.

Todos os nós se trata de emaranhados “através de poemas sobre, escritos por ou endereçados a Clara. É a costura de uma rede de sustentação para os buracos que se abrem ao longo do tempo e que em algum momento precisam ser costurados novamente”, comenta a autora. Para além disso, o livro mergulha com leveza no universo da psicanálise, presente desde a criação do título, até a abordagem da condição humana como produto inacabado de um constante recortar e colar. “Não é um livro de psicanálise, mas com certeza a teoria psicanalítica permeia muito minha escrita”.

“Uma costura feita à mão”, destaca a também escritora e poetisa, Míria Moraes, que assina a orelha da obra. “De uma poetisa incomum, e inaugural, que nos presenteia com um livro cheio de histórias emaranhadas de nós atuais e antigos. Aqueles que sempre apertam os nossos buracos não preenchidos e os lugares entupidos de coisa alguma. Sua poesia provoca uma sensação de atravessamento, consegue ser impessoal e familiar. E mesmo que perfure, transforma. O que me faz ter a certeza de que a Clara não está sozinha, nem eu”. Um trecho do livro já está disponível no site da Editora Penalux.