Pela primeira, após mais de quatrocentos anos da sua primeira edição, o público baiano terá a oportunidade de conhecer os famosos sonetos de Shakespeare traduzidos integralmente para o português por um autor baiano, Oscar Dourado.

Uma das ideias que norteou o trabalho foi desenvolver uma tradução que aproximasse ao máximo a complexidade do verso shakespeariano de sua expressão em nossa língua. Sem ser literal, mas buscando, meticulosamente, abarcar a contribuição semântica de cada termo na constituição de cada imagem, de cada verso, de cada poema. Passar para o português a força e a intensidade da linguagem afetiva dos sonetos foi sem sombra de dúvidas o maior desfio a superar.

Na elaboração dos seus sonetos, Shakespeare usa refinados recursos literários e figuras de linguagem. Na retórica shakespeariana encontram-se reflexos das tendências e modas, que são características do Renascimento: referências a personagens clássicos da mitologia greco- romana; interesse por questões humanas não religiosas; e o estabelecimento de padrões e normas de decoro e conduta comuns repercute em níveis distintos de formulação, enriquecendo as nuances estilísticas dos textos. Tornar essas particularidades perceptíveis na tradução foi outra ideia norteadora.

Os poemas abordam questões humanas desdobradas de labutas existenciais diversificadas: a passagem do tempo, a posse e a perda da beleza, a inevitabilidade da morte, etc. E uma gama de sentimentos, sobretudo o amoroso, que merece uma menção especial uma vez que contempla toda a diversidade de gênero tão apreciada em nossos dias.

Os Sonetos de Shakespeare atestam a procedência da perenidade de certas obras de arte de atravessar os séculos emocionando continuamente. Pois, o que o poeta desejou expressar então, ainda hoje pulsa.