O Dia Internacional da Família, celebrado neste 15 de maio, terá um sentido diferente este ano. Em função da pandemia do Covid-19, as relações familiares se estreitaram e a convivência passou por adaptações. Segundo o presidente da Federação das Apaes do Estado da Bahia (Feapaes), Narciso Batista, até mesmo as famílias acostumadas a uma rotina de atenção especial aos filhos, agora redobram os cuidados. “Esta é uma excelente oportunidade para refletirmos sobre o papel e a importância das famílias no desenvolvimento dos seus membros, sobretudo aqueles que possuem algum tipo de deficiência intelectual ou múltiplas”, disse ele.

Para a antropóloga e professora da UFBA, Roca Alencar, a sociedade passa agora por um importante aprendizado. Durante as últimas quatro décadas, afirma, as famílias foram delegando para as escolas a missão de educar. “Acho que esta pandemia veio para nos dar uma puxada de orelhas. Precisamos reaprender a compartilhar com nossos filhos as atividades domésticas, assistirmos filmes juntos e estabelecermos um comportamento diferente, disse Roca.

Mãe de Alice, uma adolescente com Síndrome de Down, Roca também é coordenadora de Família, da Feapaes, ao lado de Jurandir de Araújo Mato Grosso, e acompanha ao longo dos últimos anos o processo de ruptura das famílias. Pesquisa realizada em 2011, numa amostra de 3.829 pais ou responsáveis legais de usuários das Apaes com diagnóstico de deficiência intelectual e múltipla, indicou que apenas 6,9% destes atendidos tinham o pai como único responsável. “Esta é a realidade da grande parte destas famílias”, lamenta. Roca relata um depoimento de um atuante colega do movimento da Apae, que em função do Covid-19, está mais próximo da filha e que percebeu, em função disso, que ela teve um enorme ganho emocional. “Mesmo sendo próximo, a atenção redobrada trouxe novos resultados. Incrível como as pessoas reagem ao estímulo do amor e carinho”, disse Roca.

Segundo Narciso Batista, é importante se discernir com clareza o papel da família e buscar estratégias de participação efetiva. “Um maior envolvimento da família significa uma maior possibilidade de sucesso em relação ao desenvolvimento da criança, em especial as com deficiência. Precisamos entender o que o universo está nos revelando. E aproveitarmos para ressignificar a palavra família”, disse ele.