Esta semana, a modelo transexual baiana, radicada em São Paulo, Cecília Gama, vencedora do reality show Born to Fashion promovido pelo canal E! internacional, desembarcou em Salvador para ser submetida a cirurgia plástica para feminilização de mamas, dando início ao seu processo de redesignação do gênero.

A modelo, natural de Itabuna, que ganhou notoriedade após vencer o programa e assinar um contrato com uma grande agência de modelos internacional, relata que esta cirurgia sempre foi um grande sonho e no momento sente-se mais preparada para este passo importante.

O médico Felipe Góis, cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), que realizou o procedimento na modelo, relata que a capital baiana, está em vias de ganhar um serviço de atendimento cirúrgico para pacientes trans, lembrando que já existem dois serviços de atendimentos clínicos gratuitos.

Segundo o especialista, embora não haja levantamentos precisos sobre quantos transexuais existem no Brasil, estudos mencionados em junho de 2010 pela revista especializada The Lancet apontam que entre 0,4% e 1,3% das pessoas com mais de 15 anos não se identifica com seu sexo biológico, o que permite estimar em pelo menos 25 milhões o total de indivíduos trans no mundo. Utilizando esses índices para a população brasileira, é possível afirmar que há entre 752 mil e 2,4 milhões de trans vivendo no país.

Para esse público no geral, porém, só existem ambulatórios especializados em 11 cidades. Já as instituições habilitadas pelo Ministério da Saúde para realizar gratuitamente a cirurgia de adequação sexual são quatro, localizadas em Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo – até recentemente, o procedimento era realizado também no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), mas o serviço foi interrompido.
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Em 2008, o processo transexualizador foi incorporado aos procedimentos oferecidos pela rede pública e ainda, o governo federal publicou o Plano nacional de promoção da cidadania e direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, compilando as propostas aprovadas na primeira conferência nacional sobre o assunto em 2013.

Em 2019 o Ministério da Saúde editou o chamado “Projeto Singular” que a idade mínima para procedimentos ambulatoriais seja de 16 anos, esses procedimentos incluem acompanhamento multiprofissional e hormonioterapia. Para procedimentos cirúrgicos, a idade mínima é de 18 anos.

A redesignação de masculino para feminino inclui a amputação do pênis e a construção da neovagina (nome dado ao novo órgão), implante de próteses de silicone nas mamas e redução do pomo de adão para tornar a voz mais aguda. Já na transformação de feminino para masculino, as cirurgias incluem remoção dos seios, reconstrução dos genitais e lipoaspiração.

Em ambos os casos são feitos o acompanhamento clínico e a terapia hormonal por dois anos antes da cirurgia e até um ano no pós-operatório. Vale lembrar que, baseado no estudos de grandes centros como os localizados nos EUA e na Bélgica, a cirurgia genital não é o maior objetivo dos pacientes transexuais, mas, sim a cirurgia mamária, como cirurgia submetida pela modelo Cecilia Gama, e neste âmbito existem diversas peculiaridades nestes procedimentos que promovem um resultado final mais natural como desejado pelo paciente.

Felipe Góis ressalta que a cirurgia plástica em indivíduos trans atua de forma importante na melhora de seu bem-estar e qualidade de vida, dessa perspectiva, é totalmente plausível que o tratamento seja oferecido pelo SUS, pois é um problema real de saúde pública minimizado por muito tempo.