“Eu sou a Tempestade”, espetáculo de formatura em artes cênicas da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (ETUFBA), fica em cartaz até o dia 23 de dezembro, no Teatro Martim Gonçalves. Em cartaz de quinta à domingo, o espetáculo tem direção de Elisa Mendes, que convidou Gildon Oliveira para explorar a estética gótica e a obra shakespeariana.
Personagens, falas emblemáticas e situações das obras Romeu e Julieta; Titus Andrônicus; Macbeth; Antônio e Cleópatra; Hamlet; Rei Lear; A Tempestade ganham releituras contemporâneas, tornando o espetáculo em uma crítica político-social. “Investimos na criação de uma atmosfera que dá unidade às múltiplas situações apresentadas, em que paira uma ameaça de transformação a partir das ações de uma ‘criatura’”, explica o dramaturgo.
“Ser ou não ser? Neste tempo de dúvida eis aí uma grande questão” , “… dissecar os conflitos da natureza explorando tudo o que tem nome … E denominar é de certa forma conhecer e conhecer assusta”, “ Há um nome que batiza a mudança que transformou tudo em incerteza. Para nós, ela atende por: criatura …”. São alguns trechos que dão corpo e voz a complexidade dos debates levantados na montagem: questões raciais, desigualdades sociais, sexualidades, segurança, etc..
Oliveira explica que na dramaturgia existe o propósito de provocar uma inquietação e a partir disso uma possível discussão sobre mudanças, transformações, situações que se instalam e deixam evidentes os lugares de privilégios e os lugares de subalternidades que podemos ocupar. “A inspiração e as referências vindas da obra de Shakespeare permite explorar um ser fragmentado, que se fragiliza na tentativa de entender a si e o que o circunda”, complementa.
A criatura não se define como uma única coisa, ou forma, mas como uma presença que se instala e provoca modificações. Para alguns, ao menos inicialmente, boas mudanças, para outros não. Criatura 04 diz: “As preocupações eram outras. Para os que serviam: se o trabalho estava adequado, se estava do agrado. Para os que eram servidos: a hora em que seriam atendidos e se a taça estaria sempre cheia”. Criatura 03. “Queria poder ter aproveitado mais”. Criatura 04. “Tinham muito o que comemorar. Regalias também são conquistas!”
Elisa Mendez explica que em Eu Sou a Tempestade são apresentadas várias situações que refletem a ideia de que existe um povo dominado por uma criatura, que é uma grande ameaça, cerceadora das liberdades, que oprime e, por conseguinte, revela as sombras de todos nós.
“É importante pontuar que, essa criatura não surge do nada. Na verdade, nós a alimentamos. Por isso, são todos chamados de criatura. São parte dela. Tudo o que agora tememos, ajudamos a construir”, especifica a diretora.
Além da estética gótica inspirar a dramaturgia, ela serviu de base para a visualidade do espetáculo – figurino e maquiagem – desenhada pelo multiartista Agamenon de Abreu. “Misturamos elementos góticos com o uso de golas renascentistas, shakespearianas, fazendo ainda uma fusão com o universo romântico e sombrio de Allan Poe”, explica Abreu.
Já o cenário é uma instalação em constante transformação. O vazio, grandes escadas, trincheiras e móveis que circulam e vão evidenciando as discussões sociais, raciais, de sexualidade, entre outras. A parte cenográfica é uma criação da arquiteta Flora Borges e da diretora Elisa Mendes.
Estão em cena Bárbara Laís, Emerson Sant’Anna, Clarissa Gonçalves, Fábio Nascimento, Giovanna Boliveira, Jell Oliveira, Luisa Domingos, Raphael Mascarenhas e Rebeca Oliveira. A preparação dos atores e atrizes ficou a cargo do renomado diretor e ator Harildo Deda. Já a coreografia e preparação de corpo é de João Perene.