“A beleza da flor”
“Não sou flor que se cheire
Nunca quis ser uma rosa, crisântemo ou Jasmin
Plantei-me não para te agradar
E não enchi o meu jardim de flores perfumadas
Nem ansiei que borboleteasses em mim.
Admiro o belo das cores e formas
E reconheço que o belo por si só, já se basta
Tudo o que é belo, é arte, é divino
E tudo o que é divino extrapola a nossa compreensão
Não se pode ter o belo, muito menos ser o belo
Toda beleza é intermitente, é fugaz
Toda perfeição é impessoal e tentadora
E só a solidão e o silêncio se assemelham ao perfeito
O belo, não demora muito, incomoda.
O que me atrai com voracidade
São as coisas rispidamente belas
Que não se revelam fáceis
Que desabrocham doloridas
Que quebram paradigmas
Ou se protegem sob a banalidade do ser
Essas coisas estranhamente me comovem
E são nelas que me identifico,
Como o mais banal dos homens.
Não nasci para ser flor,
Ou lhe agradar os sentidos
Vim apenas para ser
E quem se sentir tocado por isso
Que me tenha por merecer
Colheremos juntos as sementes
E gozaremos o prazer da colheita
Eu Sou mato raso,
Nunca despetalei ou criei raízes fortes,
Me envergo no vento, perene ao tempo
Com haste fina, me moldo
Mas nunca quebro.
Resisto a tudo, e passo despercebido
Para estar comigo,
Primeiro tire os sapatos,
Dispa-se de todos os conceitos,
Esqueça-se de quem eras,
Eu não me importarei com nada
Pise lento, deite na relva
Não me olhes e nem me julgues
Apenas me sinta
Sinta cada gota de orvalho
E o vento a brincar com teus cabelos
Não há nenhum significado escondido
Nem há mentiras por trás do que não é dito,
É tudo claro, é tudo simples
É tudo estranhamente belo
Tudo imperfeitamente feito na medida do que nos cabe.
Mais me agrada ser o mato livre
Do que ter a rosa bela,
A natureza morta de um buquê
É o vazio que fica no vaso
Que fica em nós,
depois que todas as flores mortas vão para o lixo.” (André Luis Silvany- 16/07/2016)
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