Ventos fortes sopram a favor da boa música já na faixa de abertura de “Átimo”, segundo disco de estúdio de Ian Lasserre, que chega hoje nas plataformas digitais através do selo sueco Ajabu! . “Sem condições de navegar” tem gosto de reencontro, uma harmonia bonita, bem executada, é recheada de ironia. Um ótimo cartão de visitas para um disco notoriamente feito com todo capricho.

Para tocar no álbum, Ian Lasserre chamou os amigos, ou seja: se cercou do que há de mais sofisticado na música contemporânea baiana. Produzido por Sebastian Notini – a quem o cantor rende grandes elogios – as canções ganharam guitarra de Felipe Guedes, clarinete de Ivan Sacerdote, flauta de Leandro Candido de Oliveira, baixo de Alexandre Vieira e por aí vai… Contudo, “Átimo” tem um ar pop e passa suave, com arranjos belíssimos, mas com alguns recados densos, pelos nossos ouvidos.

A Bahia é latente ali. Isso fica claro, principalmente em “Minha Bahia”, que ganhou clipe rodados nas ruas de Salvador, “Samba de Quarta-feira” e em “Mergulho”, canções que nos deixam “besuntados de dendê”, como diz um dos versos. “Acho minha terra abençoada e peculiar na construção do consciente coletivo. Tenho muito orgulho de ter nascido lá e claro que isso repercute na minha musicalidade, principalmente através da influência de magos mestres baianos como Roberto Mendes”, afirma o cantor.

“Mas, há também muito da minha ida para São Paulo e as relações que criei por lá. Nomes como François Muleka e Flávio Tris tiveram papel fundamental na estética desse disco”, acrescenta. François canta com Ian em “Controvérsia/ Parafran”, uma trama de uma real relação contemporânea e Flávio em “Fica mais aqui”, uma canção de amor de tirar o fôlego. “Sei dos naufrágios, sou tua menina, te quero sempre em mim, fica mais aqui”, diz um trecho com certo ar buarqueano.

O álbum vai chegando ao final com “Supernova”, que vale destaque para o sensacional arranjo de sopro de Uru Pereira. Ian segue sozinho, acompanhado só de seu violão e sua voz em “Subindo a serra em busca de tropeços” até encerrar o álbum, agora acompanhado pela flauta de Leandro Candido Oliveira e clarinete de Ivan Sacerdote, arranjados pela finess de Felipe Guedes, na faixa título “Átimo”.

“Este disco traz muito ideias, pinturas, caminhos indiretos, metáforas. Acho que reflete filosoficamente como tratamos nossas relações no mundo. O sentido real do álbum só veio depois de pronto e diante dos acontecimentos que estamos passando. O átimo em si, que foi idealizado dentro de um contexto foi transformado”, resume Ian.