Quase tudo pronto para a estreia do novo espetáculo do Teatro NU – As Tentações de Padre Cícero. Gil Vicente Tavares, autor e diretor da peça, mergulhou no universo nordestino para contar versões da história de Cícero Romão Batista, o “Padim Ciço”, figura singular na religião e na política do Nordeste brasileiro. A peça estreia no dia 23 de novembro, às 20 horas, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves e fica em cartaz até o dia 09 de dezembro, de sexta a domingo, com sessão dupla aos domingos.

Este espetáculo faz parte do projeto do Teatro NU 10+ e tem apoio financeiro do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura, Fundação Cultural do Estado, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia. Uma realização do Teatro NU, com produção de Selma Santos.

De pregador da pequena capela da aldeia vinculada à Vila do Crato, a líder religioso da região do Cariri, no solo cearense; de incômodo padre, associado a milagres e práticas religiosas consideradas fanáticas, banido e excomungado da Igreja Católica, a instrumento de luta – pela mesma igreja – em defesa à entrada das religiões Evangélicas; de primeiro prefeito de Juazeiro – mais tarde, Juazeiro do Norte – a primeiro vice-presidente do Ceará e, posteriormente, deputado federal. São muitos os motivos para contar a rica e fantástica história do “Padim Ciço”.

Gil Vicente concebeu a dramaturgia “como uma colcha de retalhos, imagem tão característica do Nordeste. Cenas com personagens históricos, como Lampião, se entrelaçam com músicas originais, contações em formato de cordel, galope e desafio, dando ao espetáculo um dinamismo a partir de elementos de nossa cultura e história”, conta.

A proposta do espetáculo é trazer à tona o homem, Cícero, com suas emoções, razões e contradições, que lutava pelo pobre, mas que construiu um patrimônio substancial e que o transformou em um homem rico. Ainda que esta montagem pretenda fazer uma homenagem ao personagem histórico, é importante fazer o público experimentar os sentimentos, o contexto e as ações do Padre e fazer, ele mesmo, o seu julgamento e suas constatações.

A história é “perpassada por diversos jogos de poder, religiosos e profanos, e há uma dimensão épica nos feitos do Padre Cícero, polêmica e misteriosa, que livro nenhum conseguiria desvendar; no máximo abrir caminhos para cada um refazer as perseguições religiosas, as batalhas, os jogos políticos que fizeram de Cícero um símbolo do Nordeste”, avisa Gil.

O elenco se desdobrará entre vários papeis, compondo o painel de personagens que acompanharam a trajetória de Padre Cicero. A proposta do grupo é mergulhar no universo de sonoridades do sertão, com cordel, embolada, tradições sertanejas – o rico imaginário sonoro e musical nordestino – com música executada ao vivo, trazendo, para o palco, a atmosfera do tempo e espaço que embalaram a vida de Padre Cícero e que continua imprimindo, ainda hoje, a sua marca em nossa arte.

Para contar essa história, Gil se cercou de profissionais gabaritados, desde os atores aos integrantes da ficha técnica. No palco, Marcelo Praddo, ator do Teatro NU, divide a cena com Denise Correia, Elinaldo Nascimento, Marcos Lopes e Lúcio Tranchesi, esse último dando vida ao Padre Cícero. O professor Eduardo Tudella, parceiro do grupo, é responsável pela luz do espetáculo; Bárbara Barbará assina as coreografias, a direção de movimento e a assistência de direção; Luciano Salvador Bahia assume a direção musical; o figurino fica a cargo de Rino Carvalho; maquiagem de Anna Oliveira; fotografias de Ricardo Prado e programação visual de Guto Chaves.

Para o cenário, Gil convidou Márcio Medina, cenógrafo e figurinista paulista, que se aproximou do grupo após assistir ao espetáculo “Os Pássaros de Copacabana”. Colaborador constante de várias companhias de teatro, Medina é um dos diretores de arte mais requisitados da cena paulista.

Com o espetáculo, o Teatro NU pretende aproximar e seduzir o público baiano para uma viagem em nossas tradições, propondo associações e reflexões sobre o tema, no momento atual – características sempre presentes em suas montagens. E assim, reforçar o sentido que move os espetáculos do grupo, voltando ao passado, comentando o presente e propondo reflexões que norteiem nosso futuro.