Não é raro encontrar quem tenha alguma insatisfação com a própria aparência. Na ânsia pela melhor selfie ou melhor versão de si mesmo, há quem recorra ao uso excessivo de filtros das redes sociais ou procedimentos estéticos frequentes. No entanto, quando isso é motivado por uma percepção alterada que a pessoa tem da própria imagem, onde potencializa defeitos mínimos ou até inexistentes, pode ser um sinal do Transtorno Dismórfico Corporal (TDC). A doença é caracterizada pela preocupação exagerada com a aparência e uma visão alterada da própria imagem.

Maísa Pamponet é médica dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, e explica que é importante perceber quando a preocupação com a aparência passa do limite saudável. Em estágios mais graves, o TDC pode assumir uma postura incapacitante ao apresentar prejuízos no funcionamento social do indivíduo, criando comportamentos compulsivos a partir da insatisfação obsessiva com a aparência: “O TDC pode ser disfuncional e tende a gerar muito estresse. Isso acaba afetando a vida social da pessoa, às vezes ela tem dificuldade de ter as atividades habituais do dia a dia, como o trabalho ou vida acadêmica, e passa horas no espelho, um tempo que ela poderia estar fazendo outra coisa”.

A frequência de queixas estéticas por parte de pessoas que buscam a perfeição do corpo e da pele tem feito profissionais da área se debruçarem sobre o assunto. O artigo Transtorno Dismórfico Corporal em Dermatologia: Diagnóstico, Epidemiologia e Aspectos Clínicos, publicado nos Anais Brasileiros de Dermatologia, alerta que a prevalência do transtorno, na população geral, é de 1 a 2% e, em pacientes dermatológicos e de cirurgia cosmética, de 2,9 a 16%.

DERMATOLOGISTAS DEVEM TER ATENÇÃO AO HISTÓRICO DO PACIENTE

A alta prevalência do TDC em pacientes dermatológicos alerta para a necessidade de treinar profissionais da área para a investigação, diagnóstico e encaminhamento para tratamento psiquiátrico quando necessário, alerta o estudo. Dermatologistas tendem a ser os responsáveis por detectarem os primeiros sinais de TDC. Isso porque esses pacientes podem recorrer exageradamente a procedimentos estéticos na tentativa de dar fim ao problema que lhe é incômodo ou reduzir os sintomas.

ORIGEM E DIAGNÓSTICO

Os estudos apontam para origens múltiplas do TDC, conta Maísa Pamponet: “Existem estudos e teorias para explicar a origem, mas nenhuma fecha completamente. Há o fator hereditário, cerca de 6 a 8% de pacientes que tem TDC tem histórico familiar. Tem outras teorias psicológicas, relacionados ao sentimento de inferioridade e outros sintomas. E algumas alterações neurofisiológicas mesmo, de condições que alteram a produção de serotonina, e algumas teorias falando de alterações a nível anatômico de funcionamento neurológico”.

Para o diagnóstico, a médica destaca 4 critérios utilizados para determinar se uma pessoa tem o Transtorno Dismórfico Corporal: preocupação exagerada com defeito imaginário ou muito pequeno, desproporcional à preocupação; execução de comportamentos repetitivos (como se olhar no espelho, cutucar a pele e buscar validação externa com frequência) ou atos mentais (por exemplo, comparar sua aparência com a de outras pessoas); causar um estresse muito exagerado provocado por isso, em um nível que afete a vida pessoal; e que não tenha outro diagnóstico psiquiátrico, a exemplo da anorexia nervosa. “A pessoa pode até ter os dois, anorexia nervosa e TDC, mas se for só um distúrbio alimentar, não vai ser caracterizado como TDC”, aponta a médica.

TRATAMENTO E DERMATOLOGIA INTEGRADA

Como tratamento proposto, o médico psiquiatra Cássio Silveira alerta que pode ser via acompanhamento psicológico, com casos que necessitam de uso de remédios: “O melhor tratamento para o TDC inclui terapia cognitivo comportamental, associado ou não a terapia farmacológica. Quando esta última se faz necessária, usualmente utilizamos antidepressivo e ansiolíticos. Vale a pena ressaltar a necessidade de correta avaliação de possíveis diagnósticos diferenciais, como depressão maior unipolar, transtornos de ansiedade (social, pânico e ansiedade generalizada) e transtorno obsessivo-compulsivo”.

A união de profissionais como dermatologistas, psicólogos e psiquiatras pode ser determinante para o êxito do diagnóstico e tratamento, alerta Maísa Pamponet: “Um paciente de TDC não resolve aquele incômodo fazendo procedimentos estéticos. E aí é que está a questão, que é preciso detectar com agilidade senão a pessoa fica se submetendo a diversos procedimentos. É exatamente por termos prevalência grande de pacientes com TDC na parte Estética, que é muito importante que a gente tenha essa integração entre especialidades para identificar esse problema o mais rápido possível”, alerta a médica, que inaugura no dia 8 de setembro uma nova unidade da Clínica Maísa Pamponet, onde atuará com a Dermatologia Integrada, no Centro Médico Empresarial Vitraux, em Salvador. O novo espaço vai integrar outras áreas da saúde, como Psiquiatria e Psicologia, a fim de auxiliar pacientes que, em suas demandas estéticas, possam apresentar sintomas de outras questões relacionadas à saúde física ou mental; e integrar o cuidado com o paciente que abrange o bem-estar físico, mental e espiritual.