Jovem cineasta nascida e atuante na África do Sul, Lhola Amira está no Brasil como residente da Residência Artística FAAP da 33ª Bienal de São Paulo e vem a Salvador a convite do Goethe-Institut para apresentar a mostra WhatATimeToBeBlackWomxnQueer (QueTemposDeSerMulherNegrxQueer), no dia 2 de outubro (terça-feira), às 20h, no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha. Autora de um trabalho que destaca manifestações de desigualdades e a sobrevivência de indivíduos negros, particularmente de mulheres negras, a artista exibirá os recentes filmes “Looking for Ghana & The Red Suitcase” (2017), “LAGOM: Breaking Bread With The Self-Righteous” (2017) e “SINKING: Xa Siqamla Unxubo” (2018), todos com classificação livre, e participará de bate-papo com a plateia. A entrada é gratuita e os ingressos serão distrib_uídos no local a partir das 18h da data, num limite de dois por pessoa, até lotação.

 

Central na prática de Lhola Amira são gestos em direção a uma cura coletiva, emanando de uma análise da ferida deixada pela colonização, pela discriminação sistemática e pelo contínuo sofrimento das populações negras. Ela subverte o olhar sobre os corpos negros e contextualiza as existências em relação a narrativas coletivas históricas e futuras, confrontando a precariedade da negritude nos discursos. Assim, na narrativa de seus filmes, fotografias e instalações, os corpos negros não apenas atuam e performam: eles aparecem em si, eles têm autonomia em seus próprios termos, imbuídos de poder – o poder de ser, de manifestar, de imaginar, de sonhar, de subverter, de rir, de beber vinho, de autorrealização. Esta perspectiva problematiza o relacionamento de espetáculo-espectador, já que não há um espetáculo pré-concebido para ser visto, e sim uma presença propositalmente incorporada.

 

O evento tem parceria com o coletivo Fuxicos Futuros, com a Mostra Itinerante de Cinema Negro, com a produtora Rebento e com o projeto Tela Preta.

 

Looking for Ghana & The Red Suitcase (2017), 10min

A imagem de uma vibrante cultura pedestre em um continente que ainda é uma encruzilhada de migrações, tráfegos e conquistas. Uma caminhada pelas ruas lotadas de Acra, capital do Gana, se transforma em um re-mapeamento do legado (des)colonial nos espaços urbanos do primeiro país que ganhou independência na África. Subvertendo a prática de caminhar, principalmente adotada como uma forma de performance por artistas de vanguarda masculinos, brancos e ocidentais, Lhola Amira restaura a totalidade de um corpo negro queer, politicamente desumanizado, e seu ritmo orgulhoso rompe a tensão entre a hipervisibilidade da mídia e o apagamento histórico.

 

LAGOM: Breaking Bread With The Self-Righteous (2017), 10min

Produzido durante residência de Lhola Amira em Skövde, na Suécia, o filme age como uma provocação na fusão de apagamento e desejo. Olhando e sendo olhada simultaneamente, a protagonista é filmada em detalhes agudos. O olhar da câmera se esforça para absorver todas as nuances da sua fisicalidade enquanto ela se move em terrenos, que parecem pouco dispostos a recebê-la.

 

SINKING: Xa Siqamla Unxubo (2018), 10min

A cura coletiva. O processo de Lhola Amira de examinar a ferida aparentemente infinita, deixada por uma das tragédias mais devastadoras da África do Sul no século XXI: o afundamento do navio S.S. Mendi, em 21 de fevereiro de 1917, no Canal da Mancha, a caminho para França, levando homens negros para servir ao lado de seus colonizadores, os britânicos, na Primeira Guerra Mundial.