Festa Literária Internacional de Cachoeira já se tornou tradição no calendário de eventos literários do Brasil. A sétima edição, entre os dias 5 e 8 de outubro, segue trazendo para o Recôncavo Baiano influentes nomes da literatura nacional e internacional, com programação para adultos e crianças. E para a primeira mesa da festa intitulada “Os reflexos do passado ancestral em nossa pele”, os autores convidados foram Cuti e Carlos Moore (Cuba) com mediação de Zulu Araújo, diretor da Fundação Pedro Calmon.
O etnólogo, cientista político e militante mundial da causa negra, Carlos Moore falou um pouco “Pichón”, sua autobiografia, que retrata o que ser negro e sua trajetória. Questionado pelo mediador pela sua coragem em relação ao título da publicação, já que pichón é um vocábulo extremamente insultante filho de urubu em cubano. “Fui chamado durante toda a minha infância assim, esse nome era muito pejorativo” respondeu Moore, referindo-se a história de superação e aceitação enquanto negro.
Entre perguntas sobre “quem sou eu?” e “como você se reconhece?”, Moore e Cuti falaram sobre marcas do racismo na infância e os reflexos positivos e negativos desse processo de aceitação e evolução da sociedade. “Ser negro é muito difícil, mas quando você consegue, é muito gostoso”, respondeu Cuti, mestre e doutor em literatura, parafraseando o amigo Mestre Sombra ao ser questionado sobre ser negro e questões raciais.
Questionados pela plateia sobre o papel da mulher em suas trajetórias, os dois convidados afirmaram que as mulheres contribuíram para a construção da identidade. Para Moore em particular, as mulheres citadas em seus livros são mulheres reais que marcaram e contribuíram para a mudança de sua vida.
“Dois nomes com trajetórias gigantescas numa mesa de abertura. Duas referências sempre consultadas, não importa a direção que se tome, envolvendo complexa teia de dissidências e busca de identidade, embate e desterro, capitulação e resistência”, diz o curador Tom Correia.
Este ano, a abertura contou com o governador da Bahia, Rui Costa, a secretária estadual de cultura Arany Santana, o prefeito de Cachoeira Tato Pereira e o grande público que lotou o Clastro, espaço destinado para as mesas de debate com capacidade para 300 pessoas.